Tratamento com maconha: Unicamp cria método para garantir qualidade de remédios caseiros

Tratamento com maconha: Unicamp cria método para garantir qualidade de remédios caseiros

Por Edmilson Pereira - Em 10 meses atrás 414

Um projeto desenvolvido pelo laboratório do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (CIATox) criou um modelo capaz de controlar a qualidade dos óleos de cannabis produzidos de forma doméstica por famílias ou associações.

O objetivo é dar mais segurança para quem usa produtos medicinais à base de maconha. Nos últimos dois anos, o trabalho analisou cerca de 900 amostras de todo Brasil e agora busca demonstrar um avanço científico sobre o uso da planta em tratamentos de saúde.

O controle de qualidade realizado na Unicamp é um desdobramento do projeto de doutorado conduzido pela pesquisadora Marilia Santoro Cardoso, que desenvolveu um método capaz de determinar 12 canabinoides – estruturas químicas que definem a composição desses produtos.

Entenda como o projeto funciona passo a passo:

  1. Os pacientes e associações extraem os óleos de cannabis e enviam lotes para o CIATox;
  2. No laboratório, que fica em Campinas (SP), os pesquisadores fazem uma análise de teor;
  3. A avaliação é capaz de determinar quais canabinoides estão presentes e em que quantidade;
  4. Por último, os lotes são devolvidos com detalhes da composição.

Por que o controle de qualidade é importante

Segundo o pesquisador José Luiz da Costa, que coordena o CIATox, o serviço possibilita que o paciente saiba exatamente o que compõe o óleo extraído de maneira doméstica, já que esse tipo de produção não tem um controle regulamentado e pode apresentar alguns riscos que são atenuados pelo projeto.

Todo produto medicinal precisa ter um controle de qualidade para você ter um resultado eficaz. Você precisa saber qual a dose correta e se a substância está adequada”.

“Às vezes o paciente precisa tomar um produto com mais canabidiol [CBD] ou com mais tetrahidrocannabidiol [THC]. Ele precisa ter a certeza de que está tomando o remédio certo. Se o tratamento precisa ser constante, é importante padronizar o extrato que conseguiu”, completa o professor.

Isso significa, por exemplo, que:

  • Se a análise mostrar que a fórmula não é a ideal para aquele caso – por exemplo, se tiver mais THC do que o indicado –, o paciente poderá fazer adaptações;
  • Já se a fórmula estiver adequada, ele poderá manter aquela receita para os próximos extratos, pois terá mais precisão.

Esse cuidado é relevante porque cada pessoa tem um sistema endocanabinoide único, ou seja, tem receptores no próprio corpo que recebem e reagem de maneira individual aos componentes da maconha. Por isso o tratamento deve ser personalizado.

Como ainda há uma variedade limitada de produtos autorizados para a venda, o paciente pode ter dificuldade de encontrar uma fórmula precisa para atender às necessidades dele. Por isso, apesar dos riscos, há quem prefira produzir o próprio óleo para garantir a assertividade para seu caso.

“Muitas associações e muitos pacientes dependem dessa análise da Unicamp. Hoje o trabalho é bem estruturado. A gente está até buscando acreditação junto ao Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia] para esse ensaio, que é uma forma dele ser reconhecido. A gente está buscando fazer essas análises dentro de um sistema de qualidade reconhecido internacionalmente”.

Fonte: Portal G1