Temer assume presidência do Mercosul em meio às dúvidas sobre a continuação de seu governo
Por Edmilson Pereira - Em 7 anos atrás 840
A entrada do Brasil na presidência temporária do Mercosul, na última sexta-feira (21), acontece num momento em que o país vê na berlinda a capacidade de manter o papel de protagonista no grupo, principalmente em função das dúvidas com relação ao futuro próximo do governo. O presidente Michel Temer participou da 50ª Reunião do Conselho do Mercado Comum e Cúpula do Mercosul e Estados Associados, em Mendoza, na Argentina, e debateu entre outros temas as negociações para um acordo do bloco com a União Européia – que se estende há anos -, e a situação dramática da Venezuela.
Sacudido pela crise política, Temer assume a presidência do bloco pelos próximos seis meses, e a avaliação de especialistas é de que o presidente está limitado pela falta de credibilidade internacional.
“A crise retira a legitimidade e credibilidade das ações internacionais do presidente. Quando você sai do país nessa posição, sai sem segurança e desacreditado pelas autoridades internacionais”, disse Marcelo Fernandes de Oliveira, professor de Relações Internacionais na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de Marília.
Nos últimos seis meses, a Argentina esteve na presidência do Mercosul. Ao chegar a Mendoza, na noite desta quinta-feira (20), Temer falou sobre a expectativa para o período em que o Brasil estiver exercendo o cargo. “Espero continuar o trabalho que o presidente [da Argentina, Maurício] Macri desenvolveu com tanta propriedade ao longo desse semestre”, afirmou em entrevista.
Para o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, a capacidade de Temer liderar o processo depende da percepção dos parceiros sobre sua permanência ou não no cargo.
“Se há duvidas da minha capacidade de me manter no governo, a minha palavra vale menos nas relações internacionais, porque qualquer interlocutor vai se perguntar: será que esse governo ainda vai estar onde está daqui alguns meses? E além disso, vai se perguntar se o próximo governo que vai suceder ao Temer vai manter as mesmas posições do anterior”, explicou Stuenkel.
A viagem à Argentina ocorre em meio a uma agenda turbulenta da presidência para reforçar o apoio dos partidos da base aliada. Nas últimas semanas, Temer tem recebido diversos parlamentares a fim de impedir o avanço da denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista.
“No caso do Brasil há outro fator importante além da instabilidade. O governo já tem capacidade menor em função da maneira que chegou ao poder, e tem uma rejeição doméstica bastante elevada. Isso aos olhos dos outros países reduz espaço para iniciativas”, acrescentou Stuenkel, completando: “O foco é dizer que, apesar da crise, o projeto continua”.
Fonte: Jornal do Brasil – Rebeca Letieri