SALVAR VIDAS: COVID-19 mobiliza pesquisadores do Brasil em busca de soluções para a doença

SALVAR VIDAS: COVID-19 mobiliza pesquisadores do Brasil em busca de soluções para a doença

Por Edmilson Pereira - Em 4 anos atrás 512

Foto: Fred Bottrel

Enquanto milhões de brasileiros acompanham com apreensão o  avanço dos números da COVID-19, em laboratórios de todo o mundo, um contingente de cientistas trabalha de forma incessante em busca de mecanismos para prevenir ou conter a doença.

Assim como em diversos países, em universidades e centros de estudos brasileiros, em meio a tubos de ensaio e algoritmos computacionais, professores e pesquisadores tentam desenvolver soluções para enfrentar o novo coronavírus e seus efeitos.

As frentes de atuação são múltiplas: vão desde a busca e os testes com vacinas e medicamentos, passam por sistemas de checagem da temperatura corporal e chegam à construção de equipamentos hospitalares para pacientes graves.

Em meio a um leque de investigações que se renova a cada dia, seja em novas frentes, seja em novos desafios, o Estado de Minas elegeu projetos que vêm sendo desenvolvidos no país, como forma de homenagear esse exército silencioso de homens e mulheres que batalha na guerra contra um inimigo poderoso, mas invisível.

A seguir, detalhes de algumas dessas iniciativas, parte de um esforço global do qual pode surgir, em um laboratório de qualquer parte do planeta, a cura.

Antídoto no próprio corpo 

Angiotensina (1-7) no tratamento de pacientes com COVID-19

Coordenador: professor Robson Augusto Souza dos Santos

Instituição: UFMG

Partindo da premissa de que combater o coronavírus, uma vez instalado no organismo, é tão importante quanto prevenir o contágio, uma das frentes de estudos em curso na Universidade Federal de Minas Gerais trabalha para desenvolver um tratamento alternativo para pacientes graves com quadro de COVID-19.

Os estudos são coordenados pelo professor Robson Augusto Souza dos Santos, do Laboratório de Hipertensão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nano-Biofarmacêutica (N-Biofar) da UFMG, também CEO da Angitec – startup de pesquisa e desenvolvimento.

A ideia é fazer uma espécie de reposição hormonal com a angiotensina (1-7), hormônio produzido pelo corpo humano com efeito protetor, que proporciona diversos benefícios ao organismo.

“Acreditamos que um dos efeitos do vírus, se não for o principal, é a remoção dessa enzima da membrana da célula, com isso, a redução da produção da angiotensina (1-7). O objetivo do nosso estudo é fazer algo como uma reposição hormonal da substância”, explica o pesquisador.

Segundo ele, a ideia é proporcionar um tipo de atalho, fornecendo o produto diretamente ao organismo. “A ideia básica é esta: fazer uma suplementação, tentar normalizar, na medida do possível, a concentração desse peptídeo no corpo”, disse Robson.

As pesquisas estão na primeira fase, na qual é checada a segurança do procedimento. Trinta pacientes voluntários, maiores de 18 anos, internados com insuficiência respiratória, com necessidade de ventilação mecânica e com previsão de estada na UTI por mais de 48 horas, devem participar dessa etapa.

A próxima, a dois, atesta a eficácia do medicamento. Está prevista a participação de 100 pacientes, metade deles recebendo a substância ativa e a outra metade um placebo.

“Se obtivermos sucesso, vamos passar para a fase três, em colaboração com o pessoal da Bélgica, em hospitais de lá, da Itália, dos Estados Unidos, Inglaterra e Espanha, que vão se unir a nós para fazer um estudo multicêntrico, como é chamado. Outros hospitais do Brasil devem participar, mas por enquanto a pesquisa está em Belo Horizonte, que é nossa prioridade. Somos pioneiros”, ressaltou o professor.

Na capital, a primeira fase está sendo desenvolvida em parceria com os hospitais Mater Dei e Eduardo de Menezes, este último da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

De acordo com o pesquisador, a angiotensina (1-7) pode reverter danos pulmonares deflagrados pela infecção, além de combater complicações cardiovasculares e neurológicas, entre outras.

Como o medicamento é feito a partir de uma substância produzida pelo próprio organismo, não foram apontados efeitos colaterais que ofereçam riscos à saúde.

Também por se tratar de um peptídeo natural, caso o tratamento demonstre a eficácia e segurança esperadas não haverá necessidade de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

E é neste momento que entra em ação a fase quatro da pesquisa: a entrada no mercado. Neste caso, a atenção deve ser redobrada quanto à farmacovigilância, uma vez que muitas pessoas devem usar o medicamento.

“Nessa fase é que costumam ocorrer problemas, pois aí são milhões de pessoas usando. É o que pode acontecer também com a vacina: na fase quatro, pode surgir algum efeito colateral importante, como alergia, que acaba fazendo com que alguns medicamentos sejam retirados do mercado. É a fase de comercialização e de farmacovigilância”, destacou o professor.

Em tempos de reabertura do comércio, é comum avistar funcionários de estabelecimentos munidos de termômetro digital para aferir a temperatura de clientes – afinal, a febre é um dos sintomas da COVID-19. Mas há meios mais seguros de fazer a checagem. É onde entra a termografia.

Pensando nisso, o professor Eduardo Pimenta, do Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolveu um software, que está sendo disponibilizado gratuitamente, para que empresas usem na medição de calor.

Chamado de Safe, o dispositivo pode ser usado em empresas, aeroportos, escolas e hospitais, entre outros locais, com um termovisor acoplado ao software. A grande vantagem do método é que o avaliador pode ficar distante até três metros da pessoa a ser observada.

Em menos de um segundo, o sensor capta a temperatura corporal e, se for o caso, emite um alerta para notificar os operadores do sistema. De acordo com Pimenta, diversas empresas já contam com o aparelho, uma vez que ele é utilizado na manutenção de equipamentos.

“A vantagem é que não preciso de um avaliador se aproximando com um termômetro, porque ele pode se contaminar e ser ponto de contaminação de outros. A avaliação acontece em menos de um segundo, por um medidor muito sensível. E o sistema tem um alerta vermelho, que permite mandar um aviso por e-mail caso detecte febre”, explica o especialista.

Ele destaca, porém, que nem todo estado febril significa contágio pelo coronavírus, mas defende que a identificação permite que cada pessoa seja tratada mais cedo.

O download do software pode ser feito pelo site da empresa Omni, especializada em soluções tecnológicas para trabalhadores, sobretudo da área de esportes. Sessenta e quatro estabelecimentos já usam o sistema, entre grandes empresas e times de futebol, como Atlético, Flamengo, Sport (foto) e Grêmio.

“O corpo humano é uma grande fonte emissora de calor. Quando apresenta alguma patologia, alguma disfunção, como uma lesão muscular ou um processo que vai derivar em lesão – o que ocorre muito com atletas de futebol –, o organismo começa emitir uma quantidade maior de calor, e com isso conseguimos antecipar uma provável lesão e medidas são tomadas”, concluiu Pimenta, explicando como a técnica também ajuda em outras frentes nos esportes de alto rendimento.

Neutralizador de vírus 

Protótipo para inativar o coronavírus no ar

Coordenador: professor Alexandre Leão

Instituição: UFMG

A guerra contra o coronavírus é, na verdade, uma batalha perante um inimigo invisível, que pode estar em qualquer lugar. Com base nessa premissa, está sendo desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais um protótipo que tem como objetivo diminuir a carga viral do ar, inativando o novo coronavírus (Sars-CoV-2) e outros micro-organismos prejudiciais à saúde, como ácaros.

Os estudos são coordenados pelo professor Alexandre Leão, do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas Artes (EBA).

Fonte: Paraíba Notícia e Agência Estado