PESQUISA: Farmacêuticas avançam na produção de novos remédios para prevenir e tratar a Covid-19

PESQUISA: Farmacêuticas avançam na produção de novos remédios para prevenir e tratar a Covid-19

Por Edmilson Pereira - Em 3 anos atrás 371

A farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD) anunciou nesta quarta, em uma conferência médica, que seu antiviral de uso oral molnupiravir se mostrou eficaz contra variantes da Covid-19, em testes de laboratório.

O fármaco, apresentado na forma de pílulas, está em fase 3 de estudos em duas frentes: a profilaxia — que é a proteção preventiva após a exposição a um agente infeccioso — e o tratamento para infectados que ainda não necessitam de hospitalização.

O trunfo contra as variantes, informou a agência Reuters, seria por conta do foco de ação do fármaco. Em vez de mirar na proteína S, parte do vírus que sofre algumas alterações graças às mutações, o medicamento age em uma enzima responsável pela replicação do coronavírus. O alvo da ministração do remédio é introduzir “erros” no código genético do agente infeccioso, inibindo sua replicação.

De acordo com a empresa, o novo antiviral seria potente, inclusive, contra a variante Delta, cepa mais transmissiva e responsável pela maioria de casos de Covid-19 sequenciados em países como o Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.

Outros esforços

A Merck não é a única. A Pfizer anunciou nesta semana o início de testes intermediários para seu candidato a medicamento profilático contra a Covid-19. Os estudos incluem pessoas acima de 18 anos que moram em casas com alguém com teste positivo para a Covid-19. Participam da pesquisa por volta de 2,6 mil pessoas que tomarão o medicamento duas vezes ao dia, por cinco ou dez dias. Está previsto, também, o uso de placebo para ratificar o bom desempenho do fármaco.

Outras farmacêuticas também trabalham no desenvolvimento de medicamentos antivirais contra a Covid-19. Entre elas, estão as norte-americanas Enanta Pharmaceuticals e Pardes Biosciences, a Shionogi do Japão e a Novartis AG, da Suíça.

Um medicamento com potencial para prevenção e tratamento para Covid-19 funcionaria nos moldes do oseltamivir, comercializado como Tamiflu, desenhado para combater o vírus da gripe (influenza). Com um fármaco do tipo em mãos, é possível inaugurar uma nova etapa no combate ao coronavírus, dentro de um esquema que é chamado entre os médicos de “mandala de prevenção”.

Nesse esquema, o primeiro passo são os cuidados não-farmacológicos, como máscaras, distanciamento social e a higiene das mãos. Depois, há as medidas farmacológicas de proteção, como as vacinas e medicamentos profiláticos, e também os utilizados como tratamento.

— Para nenhuma doença usa-se uma única estratégia de combate. É necessário um pacote (de ações combinadas). Assim, é possível salvar muitas vidas — diz Alexandre Naime Barbosa, membro do Comitê de Monitoramento Extraordinário da Covid-19 da Associação Médica Brasileira (AMB) e chefe da infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Naime explica que os maiores beneficiados por um medicamento comprovadamente eficaz contra a Covid-19 seriam os idosos e imunossuprimidos. Justamente os grupos que apresentam deficiências no sistema imunológico e que, por esse motivo, podem precisar de um tratamento adicional, mesmo após a vacinação.

Missão desafiadora

Os medicamentos antivirais contra a Covid-19 figuram como um desafio maior do que o necessário para criar as vacinas hoje em uso, explicam os especialistas. Isso por conta da rapidez com que agem os vírus respiratórios. Os únicos fármacos de sucesso nesse campo são, justamente, os dedicados a tratar e prevenir o vírus influenza.

— Um antiviral para doenças respiratórias é sempre muito desafiador. As doenças respiratórias têm um mecanismo de patogênese, que é a agressão muito rápida. Assim que o vírus entra no seu organismo, ele rapidamente se alastra, replica-se muito rápido e provoca os sintomas. Você tem uma janela de oportunidade de intervenção muito pequena — explica o professor da Santa Casa de São Paulo Marco Aurélio Sáfadi, também presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Sáfadi faz uma analogia para entender a dificuldade da tarefa de desenvolver um medicamento antiviral para doenças respiratórias e utilizá-lo no momento oportuno:

— É como um incêndio em uma floresta. Se você chega com um extintor no começo do fogo, você protege a floresta. Mas se você chegar em um momento que o fogo ganhou mais força, seu extintor trará pouco benefício — explica.

Alguns fármacos utilizados contra a Covid-19, porém, receberam registro de uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há, pelo menos, quatro com uso emergencial (controlado e temporário) aprovado, além do remdesivir, que conta com registro, ou seja, a aprovação total, desde março.

Especialistas médicos apontam, porém, que o uso desses fármacos ainda tem alcance aquém do esperado para fazer diferença no controle da pandemia. Daí a necessidade de seguir pesquisando até que surja um medicamento indiscutivelmente eficaz contra o vírus.

Fonte: Paraíba Notícia e o Globo