Percentual da população com anticorpos para o coronavírus aumentou em 53% em duas semanas duas semanas no Brasil

Percentual da população com anticorpos para o coronavírus aumentou em 53% em duas semanas duas semanas no Brasil

Por Edmilson Pereira - Em 4 anos atrás 521

Em duas semanas, a população de brasileiros com anticorpos contra o novo coronavírus em 83 cidades aumentou de 1,7% para 2,6%, revela o Epicovid19-BR, estudo da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) financiado pelo Ministério da Saúde que busca estimar o tamanho do contágio no Brasil.

De acordo com os pesquisadores, o crescimento mostra que o contato com o vírus no Brasil segue acelerando, e é ainda mais rápido em algumas cidades, como o Rio de Janeiro.

O aumento de 53% entre as duas fases da pesquisa é inédito em estudos similares. Na Espanha, por exemplo, na elevação foi de apenas 4% no mesmo intervalo.

Em cada uma das 83 cidades, foram entrevistadas e testadas mais de 200 pessoas nas duas fases, a primeira de 14 a 21 de maio e a segunda de 4 a 7 de junho.

— Se fosse uma corrida de Fórmula 1, o Brasil seria o carro mais rápido na pista, infelizmente. Em vários lugares a Covid-19 já desacelerou ou acelera de forma mais leve. Aqui é contrário. Ainda não somos o primeiro lugar na corrida, mas, se continuar assim, vamos chegar — diz o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e coordenador da pesquisa.

De acordo com Hallal, considerado o número de semanas após a 10ª morte, seria o momento de o país começar a entrar em curva descendente, a julgar pelo que houve em outros países. Mas é o contrário: seguimos subindo a montanha.

— Estaríamos no pico se compararmos com o mesmo tempo em outros países, mas com essa estratégia kamikaze de abertura continuamos subindo e a montanha pode se tornar mais alta. Não se tem conhecimento de nenhum país que afrouxou o isolamento social perto do pico. O Brasil resolveu dobrar a aposta. No momento mais grave da pandemia, decidiu reabrir — afirma Hallal.

— Na Espanha, por exemplo, o estudo mais recente deu que 5,2% da população tinha anticorpos para o vírus, mas temos que levar em consideração que lá a pior fase já passou. O número de mortes diárias e casos novos diminui há um bom tempo. Há algumas semanas era 5%, agora é 5,2%, ou seja, um leve aumento.

Nas 120 cidades com 200 ou mais entrevistas realizadas na segunda fase da pesquisa, a proporção de pessoas com anticorpos, que significa que já tiveram ou têm o novo coronavírus, foi estimada em 2,8%, podendo variar de 2,6% a 3% pela margem de erro da pesquisa.

Esses dados já levam em consideração a taxa de falsos positivos e falsos negativos do teste rápido utilizado. Essas cidades, que incluem 26 das 27 capitais (exceto Curitiba), correspondem a 32,7% da população nacional, totalizando 68,6 milhões de pessoas, entre as quais 1,9 milhão estão ou já estiveram infectadas.

No entanto, os resultados não devem ser extrapolados para todo o país pois vêm de cidades populosas, podendo ser diferentes em cidades pequenas ou áreas rurais.

Os pesquisadores afirmam que a contagem de pessoas com anticorpos no Brasil certamente já está na casa dos milhões: “No dia 3 de junho, véspera do início da pesquisa, essas 120 cidades somadas contabilizavam 296.305 casos confirmados. Os dados do Epicovid19-BR estimam que, para cada caso confirmado nessas cidades, existem seis pessoas com anticorpos na população”, diz o relatório. É o equivalente a quase 1,8 milhão de pessoas.

Cidades Críticas

A diferença por regiões do Brasil é marcante. As 15 cidades com maior prevalência incluem 12 da Região Norte e três do Nordeste. Em Boa Vista (RR), a proporção da população que tem ou já teve coronavírus foi estimada em 25%, ou seja, um de cada quatro habitantes da cidade está ou já esteve infectado.

Já na Região Sul, nenhuma cidade apresentou prevalência superior a 0,5%. Em Porto Alegre (RS), por exemplo, foi menos de 1%.

Para Hallal, a situação do Rio de Janeiro é uma das mais críticas do país: em meados de maio, 2,2% dos cariocas tinham a presença de anticorpos. No começo de junho, apenas duas semanas depois, eram 7,5%.

— Não é o carro mais rápido, Maceió consegue ser mais rápida, mas é muito preocupante. Se no Brasil o aumento foi de 53%, no Rio foi de mais de 300%. São Paulo não acelerou desse jeito. Estamos falando da segunda cidade mais populosa do Brasil.

Para calcular a amostra, foram selecionadas 133 regiões intermediárias como define o IBGE. Em cada uma dessas cidades, foram sorteados 25 bairros, depois dez casas em cada um e apenas um morador sorteado. A meta era entrevistar e testar 250 pessoas por cidade.