Passadas as eleições, Congresso discute presidências da Câmara e do Senado
Por Edmilson Pereira - Em 6 anos atrás 861
O Centrão — bloco formado por PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade — está mobilizado para articular a reeleição de Rodrigo Maia (DEM), atual presidente da Casa, e tem até 1º de fevereiro para concretizar a aposta. A perspectiva de Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT) ocuparem o Planalto antecipou as articulações para que nenhum dos partidos consiga a presidência das casas legislativas. A ideia é evitar o excesso de poder das legendas, as duas maiores do Congresso, afastando a remota ideia de uma pauta única entre os poderes. A presidência do Senado, hoje ocupada por Eunício Oliveira (MDB), também entra na disputa, tendo em vista que os caciques reeleitos querem continuar com poder de barganha perante os deputados.
Três parlamentares eleitos no último domingo entraram na disputa pela presidência da Câmara. Capitão Augusto (PR-SP) e Delegado Waldir (PSL-GO) foram reeleitos e Kim Kataguiri (DEM-SP) está no primeiro mandato. Representantes do Centrão dizem que a maior ameaça não é o Delegado Waldir, mas o próprio PSL. “O desafio é vencer o partido. O Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) é um dos nomes cotados para tentar a vaga do Rodrigo. Pai e filho comandando Executivo e Legislativo, você já imaginou?”, questiona um progressista. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos pelo Correio dizem que não há nenhum impedimento legal. Porém, afirmam que essas ocupações simultâneas criam uma espécie de dinastia passível de discussão na Corte. O argumento é o ferimento da independência dos Poderes.
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Eduardo Bolsonaro é o campeão nacional do PSL no que diz respeito a votos para o legislativo. Puxado pelo pai, é visto como possível presidente da Câmara. Na última terça-feira, disse que vai tentar eleger para o comando da Casa alguém que tenha ideias alinhadas com as do seu pai. A declaração foi vista como ameaça pelos adversários que circulam pelo Salão Verde, mesmo após Bolsonaro frisar que é preciso aguardar o resultado do segundo turno da eleição presidencial, em 28 de outubro. “Começa falando que quer colocar alguém alinhado com a família, depois diz que o melhor é realmente um integrante da família. O Centrão está mobilizado em colocar alguém que represente um meio-termo entre os candidatos à presidência da República”, contaram integrantes do Solidariedade.
Para o ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp, há um acirramento de ânimos relativo ao tema: “Não há impedimento algum de o filho do presidente da República ser presidente da Câmara. Não é uma indicação, então não é nepotismo. Mas desmerece o Congresso. Não há ordem constitucional que proíba, mas é inconveniente”. O jurista acredita que uma eventual eleição com o nome de Eduardo Bolsonaro para a Câmara, se Jair Bolsonaro estiver no Planalto, será discutida nos tribunais superiores. “O Judiciário está sendo acionado para resolver até onde a casca de banana deve ser colocada para o vizinho escorregar. É claro que isso vai passar por lá.”
Polarização
O conjunto de parlamentares escolhidos pela população para os próximos quatro anos reflete a acirrada polarização entre o PSL, de Jair Bolsonaro, e o PT, de Fernando Haddad, uma indicação de que ambos sofrerão oposição sistemática, de cara. “Os petistas têm uma bancada grande, mas ela já foi muito maior. De 2012 pra cá, o partido perdeu quase 30% da base. Na contramão, o PSL era um nanico que chegou no primeiro pelotão. Reflexo das eleições, o Congresso será extremamente conservador. Não vai ser tão fácil governar. Teremos muita oposição dos dois lados. Aprovar medidas muito impopulares, como maioridade penal e reforma da Previdência, será trabalho complexo”, pondera André Felipe Rosa, analista político da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Ele acredita que a presidência do Senado ficará com os partidos mais tradicionais, como MDB e PSDB. Aposta na reunião em torno do emedebista Renan Calheiros, um dos últimos caciques da legenda que ainda resistem. Eunício Oliveira (MDB-CE), atual presidente da Casa, e Romero Jucá (MDB-RR), não foram reeleitos. “Digamos que o Senado não passou por uma renovação, mas por uma dança das cadeiras. Quem tem experiência para segurar votações e conseguir o que quer da Câmara terá prioridade. Especialmente após a saída de alguns petistas”, complementa o analista político. Um dos exemplos é a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que trocou o Senado pela Câmara.
Redação e CorreioBraziliense