PANDEMIAS: Micróbios e vírus que fizeram história

PANDEMIAS: Micróbios e vírus que fizeram história

Por Edmilson Pereira - Em 4 anos atrás 617

Caracterizadas por sua rápida disseminação e altas taxas de mortalidade, as epidemias – sejam elas ligadas a doenças bacterianas, como peste bubônica e cólera, ou a vírus, como varíola, gripe e HIV/aids – deixaram sua marca na história da humanidade desde os tempos pré-históricos.

Essas epidemias foram responsáveis ​​por um grande número de mortes – ocasionalmente resultando em desastres demográficos – e até mesmo mudaram o curso da história algumas vezes. A Grande Peste que atingiu Atenas entre 430 e 426 a.C. certamente precipitou a queda da cidade sitiada. As populações dos impérios inca e asteca foram dizimadas pela varíola, trazida pelos conquistadores espanhóis no século 16. Muitos historiadores acreditam que a gripe espanhola ajudou a acelerar o fim da Primeira Guerra Mundial.

A falta de conhecimento sobre as doenças que causam essas epidemias e seus modos de infecção levou as autoridades, desde muito cedo, a tomar as únicas medidas sanitárias possíveis para limitar sua propagação. Os exemplos incluem o isolamento dos doentes, desde o século 8, para impedir a propagação da lepra (hanseníase); depois, o confinamento no século 14, para conter a praga, que era galopante na época. No mar, os cadáveres de pessoas infectadas que morriam em navios eram atirados às águas.

As primeiras medidas de isolamento sanitário forçado foram tomadas em Ragusa (agora Dubrovnik, na Croácia) no século 14; depois, em Veneza, no século 15. Ambas as cidades impuseram várias semanas de quarentena aos navios na época. Essa medida se espalhou nos principais portos, incluindo Gênova e Nápoles, na Itália, e Marselha, na França.

A busca por bodes expiatórios

As consequências de tais medidas revelaram-se muito desfavoráveis ​​para o comércio. Como a Peste Justiniana que assolou diferentes partes do mundo do século 6 ao 8, a Peste Negra que atingiu a Europa em meados do século 14 perturbou gravemente as rotas comerciais tradicionais.

A bacia do Mediterrâneo foi abandonada em favor da região de Flandres, que se tornou um importante centro comercial na Europa.

Na verdade, o desejo de não prejudicar o comércio foi um fator significativo no gerenciamento de epidemias – muitas vezes atrasando drasticamente as medidas para conter sua disseminação. Não era incomum que comerciantes e políticos tentassem encobrir sua existência.

A história das epidemias também é marcada pelo surgimento de movimentos populares contra determinados grupos sociais acusados ​​de serem os causadores da doença. A perda massiva, simultânea e repentina de vidas humanas gerou tal sensação de medo e desordem que levou a uma busca para encontrar os culpados – na maioria das vezes, as populações mais pobres e marginalizadas, que foram então discriminadas.

Treinamento de enfermeiras da Cruz Vermelha em Washington (EUA), durante a gripe de 1918: difícil imaginar a devastação causada por essa pandemia no fim da Primeira Guerra Mundial. Crédito: National Photo Company/Library of Congress
© Fornecido por Revista Planeta Treinamento de enfermeiras da Cruz Vermelha em Washington (EUA), durante a gripe de 1918: difícil imaginar a devastação causada por essa pandemia no fim da Primeira Guerra Mundial. 

As pandemias causaram sofrimento generalizado, afetando famílias e aldeias inteiras. A Peste Negra matou cerca de 25 milhões a 40 milhões na Europa – entre um terço e metade da população na época. Demorou mais de dois séculos para o continente recuperar sua população anterior.

A gripe de 1918 causou a morte de cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. É difícil imaginar o estado de devastação que essa pandemia deve ter causado no final da Primeira Guerra Mundial.

Diante da morte e do inexplicável, esses desastres levaram os humanos a refletir sobre sua condição. Os acontecimentos também impulsionaram o avanço na busca por tratamentos e medidas preventivas. Embora a medicina ainda estivesse engatinhando no final da Idade Média, certas medidas de higiene estavam começando a ser impostas. Já no século 14, a roupa de cama dos pacientes era trocada. Após a epidemia de cólera que atingiu Londres em meados do século 19, as autoridades começaram a monitorar o abastecimento de água.

Surgimento de políticas públicas de saúde

A sucessão de epidemias mortais levou muitos países a entender que é mais caro tratar uma crise de saúde do que evitá-la. O cólera, uma doença preeminentemente social, destacou as condições deploráveis ​​em que vivia e trabalhava a maioria dos habitantes do mundo. A necessidade de implementar políticas de saúde de longo prazo surgiu gradualmente – promover medidas de higiene, adotar códigos sanitários e conduzir pesquisas sobre as causas das doenças e sua prevenção.

Como as doenças não respeitam fronteiras, a cooperação internacional em saúde pública desenvolveu-se durante a segunda metade do século 19. Isso resultou em uma série de conferências e na elaboração de convenções internacionais de saúde.

Em um esforço para prevenir a propagação de epidemias – especialmente cólera e a peste –, enquanto limitavam o comércio e a livre circulação de pessoas na medida do possível, 12 estados europeus organizaram a primeira Conferência Internacional de Saúde em Paris, em 1851. Isso resultou em um projeto de Convenção Sanitária Internacional, acompanhado de regulamentos internacionais relativos à peste, febre amarela e ao cólera.

Embora conferências semelhantes se seguissem, só em 1903 uma Convenção Internacional de Saúde foi adotada, e só na segunda metade do século 20 a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi criada, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial.

Desmatamento na Indonésia: a degradação sistemática da natureza a causa raiz de pandemias como a de covid-19. Crédito: Josh Estey/AusAID/Wikimedia

© Fornecido por Revista Planeta Desmatamento na Indonésia: a degradação sistemática da natureza a causa raiz de pandemias como a de covid-19.

Embora as epidemias sejam causadas pela circulação de micróbios e vírus, isso não as explica totalmente. Muitas vezes, são também o resultado de crises ambientais, alimentares, migratórias, de saúde, econômicas ou políticas. As epidemias agem como um fator agravante em crises preexistentes, muitas vezes causadas por guerra e fome.

A atual pandemia não é exceção. Isso marca uma crise em nosso modo de vida. Estudos científicos mostram que é a degradação sistemática da natureza a causa raiz da pandemia de covid-19 – pecuária industrial e desmatamento em particular. O desmatamento generalizado está exercendo pressão insustentável sobre os habitats, forçando os animais a saírem de seus ambientes naturais e encorajando os patógenos a saltar de uma espécie para outra – como foi o caso dos vírus ebola e zika.

As epidemias colocam a humanidade à prova, com uma ameaça coletiva, seguida de luto. Mas a história tem nos mostrado que sempre têm um fim – e que a partir de cada um, a humanidade soube se reinventar e até fazer alguns avanços. A atual pandemia pode igualmente levar a um mundo que respeita mais o meio ambiente e a vida humana.

Fonte: Paraíba Notícia e Departamento de Saúde Pública da Universidade Nacional Autônoma do México