O Brasil perde para a Covid-19 um dos maiores atores do País, Tarcísio Meira

O Brasil perde para a Covid-19 um dos maiores atores do País, Tarcísio Meira

Por Edmilson Pereira - Em 3 anos atrás 816

O Brasil deu adeus, nesta quinta-feira (12) , a um dos rostos mais conhecidos do grande público, que ajudou a construir a história da TV no país, mas também atuou no teatro e no cinema nacional.

Após cinco dias internado na UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo, em tratamento contra a Covid-19, o ator Tarcísio Meira morreu, aos 85 anos. Glória Menezes, atriz com quem ele foi casado por 59 anos, também, encontra-se internada no mesmo hospital, mas com sintomas leves, e “deve ter alta em breve”, segundo a assessoria de imprensa da família.

Tarcísio Magalhães Sobrinho nasceu no dia 5 de outubro de 1935, em São Paulo. O sobrenome Meira veio “emprestado” da mãe, Maria do Rosário Meira Jáio de Magalhães, por ser mais sonoro artisticamente e por 13 letras, uma superstição do jovem na época. Seu primeiro sonho profissional foi ingressar no Instituto Rio Branco para se tornar diplomada. Ao ser reprovado na primeira prova, em 1957, desistiu da ideia e acabou investindo definitivamente na carreira de ator.

Maior referência do “galã” durante décadas de profissão, Tarcísio construiu uma carreira que se mistura à trajetória da TV brasileira. Ao lado de Glória Menezes, foi protagonista da primeira telenovela diária do país, “2-5499 — Ocupado”, na Excelsior, em 1963, exibida 13 anos após a primeira transmissão televisiva nacional. Tarcísio e Glória eram as grandes estrelas da TV Excelsior após “2-5499 — Ocupado”. Depois, foram mais nove novelas até o casal assinar com a TV Globo. Na emissora carioca, Tarcísio fez sua estreia, também com a mulher, em “Sangue e areia”, em 1967, que inaugurou a faixa das 20h na teledramaturgia da casa.

Três anos depois, Tarcísio ajudou a mudar o público dos folhetins, ao protagonizar “Irmãos Coragem”, trama de Janete Clair desenvolvida para despertar também o interesse do público masculino, numa época em que novelas eram consideradas um produto essencialmente voltado às mulheres. O ator viveu João Coragem que, ao lado dos irmãos interpretados por Cláudio Cavalcanti (1940-2013) e Cláudio Marzo (1940-2015), desafiavam a autoridade do Coronel Pedro Barros (Gilberto Martinho). A trama, na qual o ator também fez par romântico com Glória Menezes, se tornou um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira. Segundo o site do projeto Memória Globo, a audiência do penúltimo capítulo foi maior que a da final da Copa do Mundo de 1970. “Foi a primeira novela que os homens admitiam que viam. Até então, eles viam meio escondidos, porque novela era coisa de mulher”, explicou o ator ao site.

Ao longo da carreira, Tarcísio atuou em mais de 60 obras na TV, entre novelas, minisséries e especiais. Seu último trabalho na TV Globo foi a novela “Orgulho e paixão” (2018).

Amor, teatro e TV

Em 1957, após desistir da carreira de diplomata, Tarcísio estrelou peças como “Chá e simpatia”, de Robert Anderson, e “Quando as paredes falam”, de Ferencz Molnar. Em 1959, dividiu o palco com Sérgio Cardoso em “Soldado Tanaka”, de George Kaiser.

Em sua longa trajetória na TV, o paulistano na TV viveu personagens inesquecíveis como Rodrigo Soares de “Cavalo de aço” (1973); Antônio Dias, de “Escalada” (1975); e Juca Pitanga, de “Coração alado” (1980). Com Felipe, em “Guerra dos sexos” (1983), surpreendeu ao viver seu primeiro personagem cômico e protagonizou cenas impagavéis ao lado de Fernanda Montenegro e Paulo Autran. Em 1985, interpretou o valente capitão Rodrigo Cambará, na minissérie “O tempo e o vento”. Adaptação da obra de Érico Veríssimo, a produção teve direção de núcleo de Paulo José, ator que morreu nesta quarta-feira, aos 84 anos.

Tarcísio também interpretou vilões marcantes, como Renato Villar, de “Roda de Fogo” (1986), obra de Lauro César Muniz; e Dom Jerônimo, na minissérie “A muralha” (2000), adaptação do livro de Dinah Silveira de Queiroz assinada por Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro.

A verve humorística foi novamente colocada à prova na novela “Araponga” (1990), na qual o ator interpretou o atrapalhado detetive Aristênio Catanduva, o Araponga do título. Aristide, em “Páginas da vida” (2006), de Manoel Carlos; e Tibério Vilar, no remake de “Saramandaia”, de Dias Gomes, feito por Ricardo Linhares (2013), foram outros personagens que marcaram sua carreira. Sua última novela foi “Orgulho e paixão”, escrita por Marcos Bernstein em 2018, em que interpretou Lorde Williamson.

O ator não restringiu sua carreira à TV. Em 1963, fez seu primeiro filme, “Casinha pequenina”, um dos maiores sucessos da filmografia de Mazzaropi. No cinema foram mais de 20 produções, entre elas “A idade da Terra” (1981), último filme de Glauber Rocha e um dos mais complexos e reflexivos, com quatro personificações distintas da imagem de Cristo (um negro, um militar, um indígena e um guerrilheiro).

— Um dia, Glauber me botou no meio de uma bateria de escola de samba. De uma hora para outra, na batida da música, notei algo: o que era para ser uma escola de samba virou uma banda militar, quase que numa marcha. Era um tipo de cinema que eu nunca tinha feito — disse Tarcísio, em entrevista ao GLOBO em 2010.

No mesmo ano, o ator estrelou “O beijo no asfalto”, dirigido por Bruno Barreto e baseado na peça de Nelson Rodrigues. A obra gerou polêmica na época, já que o personagem de Tarcísio beijava o de Ney Latorraca na boca. O último longa do ator foi “Não se preocupe, nada vai dar certo!”, de Hugo Carvana, comédia lançada em 2011.