Mangueira domina a primeira noite do Grupo Especial na Sapucaí

Mangueira domina a primeira noite do Grupo Especial na Sapucaí

Por Wamberto Ferreira - Em 7 anos atrás 1109

Teve China, teve Índia, Chacrinha e carnaval. Teve África, crítica social, política, tecnologia, Paulo Barros – em um momento que não deve entrar para o currículo como um dos mais brilhantes. Teve drama (sem feridos!), teve grana (muita!), surpresas e ideias repetidas e previsíveis. Em suma, teve carnaval, e foi com ele e sobre ele que a Mangueira fez o melhor desfile deste domingo na Sapucaí, à frente de Império Serrano, São Clemente, Unidos de Vila Isabel, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Mocidade Independente de Padre Miguel.

A parte de baixo da tabela prometia uma briga boa entre Império Serrano – de volta ao Grupo Especial após nove anos –, Paraíso do Tuiuti e São Clemente. Finda a noite, a escola de São Cristóvão sai na frente das coirmãs. Com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” (o nome vem de um verso do clássico samba-enredo “Sublime pergaminho”, entoado pela Unidos de Lucas em 1968), o Tuiuti mostrou riqueza e bom gosto visuais ao questionar a liberdade do povo negro, e caiu nas graças do público. Um dos melhores sambas-enredo do ano, de Moacyr Luz, Cláudio Russo, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal – encomendado a eles pela escola, que não promoveu concurso para este carnaval – comoveu a plateia, mesmo tendo se mostrado pesado e algo cansativo para a avenida.

O desfile, que começou com uma comissão de frente dilacerante, de pretos velhos, homens sábios na tradição africana, não se aprofundou na questão da escravidão e sua herança maldita, optando por um caminho tradicional pelo Continente Negro, com animais e trajes típicos. Apenas no fim vieram a favela e as críticas políticas do carnavalesco Jack Vasconcelos. De qualquer forma, o bem-acabado Tuiuti tem boas chances de permanecer no Grupo Especial.

Suas concorrentes largam atrás, mas não sem méritos: o “pobrinho” Império Serrano abriu a noite com uma performance intensa de samba-enredo (puxado por Marquinhos Art’Samba) e bateria (do Mestre Gilmar), acompanhados com garra pelo povo da Serrinha. O carnavalesco Fábio Ricardo caprichou nas (previsíveis, diga-se) alegorias chinesas, com dragões, leques e quimonos, mas “O Império na rota da China”, bem-recebido pelo público, ainda corre riscos.

A São Clemente foi, de certa forma, o contrário da coirmã de Madureira: bem na parte plástica e fraca em carnaval. Jorge Silveira, estreante no Grupo Especial, mostrou bom gosto e criatividade – numa linha próxima à de Rosa Magalhães, ex-carnavalesca da agremiação de Botafogo – em “Academicamente popular”, sobre os 200 anos da Missão Francesa no Brasil, mas samba, bateria e componentes, ou o que o mundo do samba chama de “chão”, deixaram muito a desejar.

Redação e o Globo