Guerra urbana no cerca à Rocinha: 3 mortos, 9 presos e 18 fuzis apreendidos
Por Edmilson Pereira - Em 7 anos atrás 1896
Passadas 24 horas do início do cerco das Forças Armadas na Rocinha, pelo menos três pessoas morreram e nove foram presas. Além disso, 18 fuzis e sete granadas foram apreendidos. Entre os presos está Luiz Alberto Santos de Moura, conhecido como Bob do Caju. Ele é acusado de ter planejado a invasão à Rocinha, no último domingo. As armas apreendidas teriam sido usadas pelos traficantes que participaram da ação no domingo.
Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) também acharam 136 munições e 75 carregadores. Os presos e as armas foram encaminhados à 11ª DP (Rocinha).
Desde o início dos conflitos na Rocinha, no último domingo, seis pessoas morreram —- uma delas foi identificada como Thiago Fernandes da Silva, e seis pessoas ficaram feridas. Além disso, foram 12 presos (já contando os oito das últimas 24 horas). Além deles, também foram presos Edson Gomes Ferreira, Wilklen Nobre Barcellos, Fabio Ribeiro França e Edson Antônio da Silva Fraga — que se entregou.
Na madrugada de ontem, agentes que investigam a invasão da Rocinha receberam áudios gravados por traficantes de várias favelas dominadas pelo CV. Nas gravações, os bandidos alertam o restante da quadrilha para o acordo feito entre Rogério e a facção.
“O toque veio do 3 (Bangu 3, presídio do CV no Complexo de Gericinó), anunciaram no baile do Complexo (do Alemão). É verídico”, afirma um dos traficantes num áudio. Em outra gravação, um bandido afirma que, se traficantes do grupo de Rogério forem presos, devem ser encaminhados a presídios do CV: “Todos os que rodarem no bonde do RG (Rogério 157)tem que vir para nós. Rocinha é nós”. Ontem, o Disque-Denúncia aumentou para R$ 50 mil a recompensa para informações que levem à captura de Rogério 157. Ouça os áudios.
Na madrugada deste sábado, um tiroteio que chegou a fechar por cerca de 1 hora os acessos à comunidade. O tiroteio começou depois que um taxista foi rendido por bandidos na Rua Jardim Botânico. Ele foi levado para o alto do Horto, onde os criminosos que estavam no veículo desembarcaram para que outros entrassem no automóvel. Em seguida, foram na direção da Rocinha. Segundo a PM, o bando estava armado com fuzis e atacaram a patrulha que estava posicionada na Avenida Padre Leonel Franca, na Gávea, próximo ao acesso para os túneis Zuzu Angel e Acústico. Houve confronto no local. Nenhum militar ficou ferido.
Em seguida, o veículo seguiu pela via expressa e se deparou com homens das Forças Armadas nos acessos à Rocinha. Houve um novo confronto, e os criminosos conseguiram fugir para o interior da comunidade. O motorista de táxi conseguiu fugir e não ficou ferido.
— Chegando na Rocinha, pulei do carro e parei. Porque a gente bateu de frente com os militares do exército. Me escondi debaixo uma lixeira. Ali imaginei que não corria risco de levar nenhum tiro. Fiquei até que o confronto terminasse. Graças a Deus saí ileso. E vida que segue, (ser taxista) é o que eu sei fazer, amo fazer — disse o taxista, que pediu para não ser identificado.
No início da tarde, criminosos que escapavam do cerco da Rocinha trocaram tiros com policiais na Tijuca e no Alto da Boa Vista, na Zona Norte. Um adolescente de 13 anos foi baleado durante o confronto, e levado para o Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro. Um criminoso foi morto e dois foram presos por policiais do 6º BPM (Tijuca). Na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, policiais da UPP da Formiga e da UPP do Borel mataram um bandido e prenderam outro.
Um funcionário de uma farmácia da Rua Conde de Bonfim relatou os momentos de tensão no tiroteio. Ele contou que estava na rua e viu um suspeito morto no local.
— Muito tiroteio. Os caras estão saindo da Vista Chinesa e descendo a Conde de Bonfim. Passei na rua e vi um morto. O carro está batido, e a Rua Edson Passos está fechada. Tem muita viatura subindo na contramão — destacou o funcionário.
A funcionária de uma padaria da Rua Edson Passos, no Alto da Boa Vista, também viu o carro em fuga: um Peugeot, segundo ela, que levava três suspeitos que passaram em frente ao estabelecimento rumo à Conde de Bonfim. Um motoqueiro da padaria que tinha uma entrega marcada para a rua seguiu os policiais, por curiosidade, e avisou os colegas de que um homem havia sido morto, outro estava detido e o terceiro havia fugido.
MORADORES SE QUEIXAM DE INVASÃO
Durante o dia, moradores da Rocinha usaram as mídias sociais para relatar supostos abusos cometidos por militares das Forças Armadas que estão ocupando a comunidade. Fotos mostram portas com sinais de arrombamento, roupas e alimentos espalhados pelo chão das casas. Os agentes não têm mandados de busca e apreensão, e portanto, não poderiam entrar na casa das pessoas. O pedido de mandado coletivo está pronto, mas ainda não foi entregue ao Plantão Judiciário.
Pela manhã, durante entrevista no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da secretaria de Segurança, o Secretário de Segurança Roberto sá disse que não enviou para o judiciário o pedido de mandado coletivo para a revista das casas na Rocinha, e negou que os policiais já estejam fazendo essas revistas.
TENTATIVA DE VOLTAR À ROTINA
O comércio no Via Ápia e no entorno da favela funcionou normalmente durante o dia. Uma moradora, que não quis dar declarações, num gesto de receptividade, chegou a levar pães e cafés para agentes do Exército que patrulham os acessos da comunidade.
— Numa situação dessas não tem como dormir tranquila, mas antes de o dia clarear deram muitos tiros lá para cima — disse uma moradora da localidade do Morro da Alegria, apontando para a mata ao lado direito do túnel Dois Irmãos:
— Não consegui dormir mais, fiquei aflita sem saber o que realmente poderia estar acontecendo. Parecia muito perto da minha casa.
Um homem de 37 anos que trabalha como pedreiro foi revistado ao sair da comunidade. Ele estava indo para o trabalho, em Jacarepaguá, e disse não ter se incomodado com a abordagem dos agentes do Exército.
— Já é a segunda vez que passo aqui hoje e sou revistado. Não me incomodo porque sei que eles estão fazendo o trabalho deles, mas acabam perdendo tempo, tinham que ir nas pessoas certas que aí pegava e acabava logo isso tudo.
Por volta das 6h, mais tropas das Forças Armadas chegaram à comunidade. Equipes da Polícia Militar, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica permanecem desde a sexta-feira na região.
A Rocinha vive em clima de guerra desde o último domingo, quando o bando do traficante Nem da Rocinha, que está preso, entrou na comunidade para retomar os pontos de venda de drogas. Na sexta, após seis dias de operações, o governo do estado solicitou a ajuda do Exército, que fez com cerco à favela com 950 homens.
Redação e Agência Globo