Futuro secretário da Receita, Marcos Cintra diz que futuro governo fará desoneração ampla da folha de pagamento

Futuro secretário da Receita, Marcos Cintra diz que futuro governo fará desoneração ampla da folha de pagamento

Em 6 anos atrás 1266

A equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, pretende fazer uma desoneração ampla na folha de salários com o objetivo de gerar empregos. O futuro secretário da Receita Federal, economista Marcos Cintra disse que todos os tributos e contribuições incidentes sobre a remuneração dos trabalhadores serão extintos.

— O único imposto que se justifica sobre o salário, a remuneração ao trabalhador, é o Imposto de Renda (IR)— afirmou Cintra.

Atualmente, as empresas recolhem o IR no contracheque, mas quem paga é o trabalhador. Cintra disse que “limpar” os tributos que incidem sobre os salários é prioridade.

ão vários os tributos que incidem sobre a folha. O mais relevante é o INSS patronal, de 20%. Já o Risco Ambiental do Trabalho (RAT) tem alíquotas de 1%, 2% ou 3%. O chamado salário-educação, que financia projetos de ensino fundamental público, tem alíquota de 2,5%.

Há ainda as contribuições para o sistema S. Paga-se 1,5% para financiar o Sesi ou o Sesc, dependendo do ramo da empresa, e 1% para o Senai ou o Senac. Já o Sebrae consome 0,6% da folha. O último tributo, de 0,2%, é destinado ao financiamento do Incra. O FGTS, de 8%, também incide sobre a folha, mas, segundo especialistas, não é considerado tributo.

De acordo com o futuro secretário de Receita, o custo fiscal sobre a folha chega a 50% e, se forem incluídos demais direitos trabalhistas, como 13° salário e abono, a 100%. O modelo, diz, é perverso e não estimula contratações.

— Vamos eliminar todas as incidências sobre a folha de salários. O Paulo Guedes (futuro ministro da Economia) quer dar um choque nos empregos, e a forma de detonar essa bomba é eliminar a carga tributária sobre a folha de salários — disse Cintra que, em entrevista ao jornal Valor publicada ontem, já havia defendido ampla desoneração da folha.

Ajuste no imposto de renda

Na visão de Cintra, o IR também precisará passar por ajustes para se tornar mais justo. Ele destacou ainda que a base de contribuição para o INSS, que tem como referência o mercado formal de trabalho, precisa mudar porque tem fragilidades, diante da grande informalidade da economia brasileira e com o surgimento de novas modalidades de contratação.

Várias alternativas estão em estudo, como criar um tributo sobre pagamento (entradas e saídas), uma espécie de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) ou um imposto sobre o faturamento. Um pacote de alternativas será apresentado a Bolsonaro, disse Cintra. O plano é elaborar as propostas em janeiro, para apresentá-las ao Congresso no início dos trabalhos legislativos, em fevereiro.

Para o especialista em finanças públicas José Roberto Afonso, a ideia de acabar com tributos incidentes sobre a folha é acertada, porém ele lembra que haverá uma enorme perda de arrecadação.

— A ideia é ótima. Eu só não sei aonde vão conseguir tanta arrecadação com outra base — disse Afonso.

No ano passado, a receita com tributos sobre folha de pagamentos chegou a R$ 555,5 bilhões. Só com a alíquota patronal do INSS foram arrecadados R$ 200,6 bilhões. A contribuição das empresas para o INSS financia os pagamentos do regime de aposentadorias, que é deficitário: no ano passado, o rombo foi de R$ 182,4 bilhões.

Segundo Fábio Calcini, sócio do Brasil Salomão & Matthes Advocacia, o custo sobre a folha de pagamentos no Brasil de fato é muito alto.

— Há ainda outros itens, como adicionais, o percentual de 10% sobre o FGTS em caso de demissão sem justa causa e a multa de 40%. É positivo que o novo governo busque a desoneração, mas, como o tema é relevante, ele deveria primeiro dizer objetivamente o que busca e dialogar com a sociedade.

analista: conta não fechA

O advogado citou a ideia de compensar a queda de arrecadação por meio de um novo imposto único sobre movimentações financeiras, nos moldes da extinta CPMF.

— A Constituição não prevê esse tipo de imposto para financiar a Previdência. O governo até poderia instituí-lo por meio de lei complementar, sem mudar a Constituição, mas isso pode levar a questionamentos — explicou.

José Dari Krein, da Unicamp, diz que não há comprovação de que a desoneração leve à criação de emprego.

— Alguns estudos mostram que não há relação estatisticamente significativa entre geração de emprego e flexibilização trabalhista ou redução do custo da folha. Logo, não seria recomendável reduzir o sistema de proteção social com base em uma tese que é muito mais ideológica do que baseada em comprovação empírica — criticou o economista.

Segundo Krein, a literatura econômica mostra que a criação de vagas responde a ciclos econômicos. A prova disso, disse ele, é que, entre 2004 e 2014, houve mais empregos sem mudança trabalhista substancial. No governo Dilma, marcado por diversas iniciativas de desoneração da folha, o desemprego subiu. Ele disse ainda que não faz sentido fazer desoneração diante do quadro fiscal deficitário:

— A conta não vai fechar. A proposta diminuiria ainda mais a base de arrecadação da seguridade social.

Para o presidente-executivo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso Dias Cardoso, a argumentação de Cintra é “muito positiva”, já que a alta carga tributária sobre a folha limita a competitividade das indústrias.

Nas contas da Abimaq, referendadas por estudo da auditoria UHY Moreira, o custo dos encargos trabalhistas no país é, em média, 71% do salário bruto da mão de obra. É o percentual mais elevado numa lista de 29 países. Mas, para Velloso, há a preocupação sobre como desonerar o trabalho sem desmontar completamente instituições que dependem das contribuições trabalhistas, como a Previdência Social, o FGTS e o Sistema S:

— Se tirar o INSS da folha, como vai resolver o problema da Previdência?