Dízimo: o que diz a Bíblia sobre a contribuição periódica que fiéis dão a igrejas

Dízimo: o que diz a Bíblia sobre a contribuição periódica que fiéis dão a igrejas

Por Edmilson Pereira - Em 3 anos atrás 592

Dicionários costumam definir o dízimo de duas formas. Primeiro como “um tributo pago por fiéis a suas igrejas”. Mas também como “a décima parte”, ou “dez por cento do total”.

Na tradição judaico-cristã, o pagamento dessas quantias remonta ao princípio da própria organização dos serviços religiosos. Nominalmente, o dízimo aparece pela primeira vez na Bíblia ainda no livro do Gênesis, que abre o Antigo Testamento.

No capítulo 14, quando há a narrativa de que Abraão retornou vitorioso da guerra e foi tomar a bênção de Melquisede que, enigmática figura apresentada como “sacerdote do Deus Altíssimo”.

No versículo 20 está a menção de que “Abraão deu-lhe o dízimo de tudo”.

Conforme explica o padre Welington Cardoso Brandão, mestre em teologia moral e psicólogo, autor dos livros Pastoral do Dízimo e Terapia a Serviço do Dízimo, essa ideia de oferecer algo a Deus é comum nas passagens do Antigo Testamento e demonstra a origem da prática.

“O dizimo não foi criado. Ele aparece na Bíblia a partir do momento em que percebemos que o homem depende também materialmente de Deus desde a criação do mundo e do homem”, contextualiza o religioso.

“Assim, o dízimo é o agradecimento que o homem faz a Deus por alguma coisa que ele conseguiu.”

Ele lembra que essa ideia aparece quando Caim e Abel “ofereciam a Deus parte do fruto de seu trabalho” e quando Noé, “depois do dilúvio, oferece um sacrifício a Deus”.

“Era tipo uma barganha”, resume ele.

“Uma prática de doar 10% de tudo o que era feito ou dos bens da terra ou da plantação ou dos animais.”

Havia razões práticas, é verdade. Em uma época em que o trabalho consistia na produção básica do necessário à sobrevivência, com a organização dos serviços religiosos aqueles que se dedicavam a tais assuntos precisavam solucionar a problemática do comer e viver.

Se um sacerdote estava ocupado o tempo todo com assuntos da fé, era necessário que de alguma forma os proventos lhe fossem garantidos por aqueles que labutavam na agricultura ou na pecuária.

História

“O dízimo era uma prática muito comum na antiguidade, no chamado Oriente Próximo. Grupos ofertavam parte dos seus ganhos, tiravam parte de sua produção para o serviço religioso ligado a suas divindades”, conta o historiador, teólogo e filósofo Gerson Leite de Moraes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Moraes lembra que “não é a Bíblia quem inventa o dízimo”. Ela registra, ela documenta uma prática que já era corrente naqueles tempos antigos.

“Estamos falando de sociedades agrárias, rurais, e de uma organização religiosa que começa a existir, e portanto, tem suas necessidades quanto à manutenção dos sacerdotes e da estrutura”, contextualiza.

“O dízimo está associado à manutenção do culto, da casta sacerdotal. Isso era feito em espécie. Do ponto de vista sociológico, não há problema algum, as religiões se organizaram todas desta maneira.”

Mas o historiador lembra que à medida que instituições religiosas foram ficando mais poderosas e sofisticadas, o que costumava ser feito em espécie passou a ter um valor pecuniário.

Templos passaram a ter cofres centrais, destinados a sustentar o sistema. As doações, então, eram feitas com o pagamento da décima parte daquilo que era obtido com a venda das mercadorias.

“A justificativa seguia a mesma: o dízimo era uma forma de demonstrar comprometimento com o sistema de adoração, de culto. Mostrava que a pessoa era fiel e que, portanto, estava inserida em toda a lógica religiosa”

De acordo com padre Welington Brandão, é preciso lembrar que o cristianismo ressignificou a prática — o que, em tese, deveria ser o principal argumento contra a leitura fundamentalista que alguns grupos religiosos fazem do Antigo Testamento.

Em síntese, o que era barganha passou a ser visto como agradecimento. E como sinal de participação.

“Antes era motivado pelo temor, um termo pelo castigo divino. No Novo Testamento, a lei do temor é substituída pela lei do amor. E o homem passa a oferecer o dízimo por amor”, explica Brandão.

No Evangelho de Mateus, por exemplo, há uma passagem sobre isso. No capítulo 23, Jesus critica aqueles que pagavam o dízimo religiosamente mas deixavam de lado a prática da justiça e da misericórdia.

Fonte: Paraíba Notícia Microsoft Star