Diplomacia e interesses comerciais; após acenos a China e EUA, governo Bolsonaro busca aproximação com Argentina

Diplomacia e interesses comerciais; após acenos a China e EUA, governo Bolsonaro busca aproximação com Argentina

Por Edmilson Pereira - Em 4 anos atrás 431

Após buscar baixar o tom com a China para garantir insumos para a vacina e fazer um aceno ao novo presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, o governo brasileiro também está atuando para diminuir as tensões com a Argentina.

Um dos principais auxiliares do presidente Jair Bolsonaro, o secretário de Assuntos Estratégicos, o almirante Flávio Rocha, está no país vizinho para uma série de visitas a autoridades locais. O gesto conciliatório ocorre em um momento em que o presidente tenta fortalecer o chanceler Ernesto Araújo, criticado por sua atuação à frente do Ministério das Relações Exteriores.

Segundo informações de autoridades brasileiras, o convite para Rocha partiu de seu homólogo argentino, Gustavo Béliz. A visita, nesta quinta e sexta-feira, foi autorizada por Bolsonaro, que agora diz querer construir uma “relação de respeito mútuo” com o país governado pelo presidente Alberto Fernández. Em 2019, o brasileiro apoiou a reeleição de Maurício Macri e, frequentemente, fez críticas ao colega que tem como vice a ex-presidente Cristina Kircher, aliada dos governos petistas.

A visita, segundo o governo Bolsonaro, quer identificar pontos de sinergia e cooperação estratégica em diversas áreas entre os dois países. Segundo uma fonte que acompanha a agenda bilateral em Buenos Aires, Rocha foi recebido nesta sexta-feira, na Casa Rosada, por autoridades argentinas, tendo à frente o secretário de assuntos estratégicos daquele país, Gustavo Beliz; o ministro da Economia, Martin Guzmán; e os embaixadores do Brasil e da Argentina, Reinaldo Salgado e Daniel Scioli. A conversa durou quase duas horas e teve como resultado a vontade política de “trabalhar juntos”.

Rocha levou à Argentina uma mensagem de Bolsonaro: o Brasil quer estreitar as relações com os vizinhos, desatar nós e avançar em um novo vínculo. E esse estreitamento de relações não se daria apenas em termos políticos, mas também comercial.

Após a reunião da Casa Rosada, Rocha e os embaixadores Scioli e Salgado foram ao Ministério da Defesa, onde se reuniram com o o ministro Agustín Rossi. Os temas tratados foram a compra do VBTP-Guarani — um veículo blindado anfíbio fabricado no Brasil — e na criação de uma força nacional de patrulhamento marítimo. Depois seguiram para um encontro com o chanceler argentino Felipe Solá. A agenda termina com um jantar com empresários argentinos.

A aproximação entre os presidentes Jair Bolsonaro e Alberto Fernández começou a ser gestada durante um jantar na residência de Rocha, oferecido ao embaixador argentino em Brasília. O encontro foi seguido de uma reunião virtual, em novembro do ano passado, entre os dois líderes sul-americanos. Diplomatas dos dois países já discutem a possibilidade de um encontro pessoal entre Bolsonaro e Fernandéz.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não participa da agenda na Argentina, porque acompanha o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na chegada das vacinas da Índia, em São Paulo.

O gesto em direção à Argentina ocorre na mesma semana em que Bolsonaro, ao cumprimentar o novo presidente americano pela posse, enviou uma carta a Joe Biden dizendo ter uma “visão de excelente futuro para a parceria Brasil-EUA”. Aliado do ex-presidente Donald Trump, Bolsonaro só reconheceu a vitória de Biden 38 dias após o democrata ter sido declarado eleito por projeções de veículos de imprensa.

Nesta semana, com dificuldades de viabilizar insumos para a fabricação de vacinas contra a Covid-19, o governo brasileiro também buscou estreitar o diálogo com a China. Os ministros Fábio Faria (Comunicações) e Tereza Cristina (Agricultura) foram escalados para dialogar na quarta-feira com o embaixador chinês Yan Wanming.

Segundo auxiliares do Planalto, os dois foram acionados por uma decisão pragmática, já que ambos atuam em temas de interesse dos chineses. O ministro das Comunicações é responsável pelas negociações sobre a rede de telefonia 5G, enquanto a ministra da Agricultura ganhou a confiança dos chineses ao construir parcerias comerciais no agronegócio.

Fonte: Paraíba Notícia e o Globo