O médico cardiologista Marcelo Queiroga, indicado para ser o novo ministro da Saúde, e o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, falam à imprensa no Ministério da Saúde.

Covid-19: Secretarias de Saúde buscam ‘fujões’ da 2ª dose da vacina até em casa; cerca de 1,5 milhão de brasileiros não apareceram para o tomar reforço do imunizante

Por Edmilson Pereira - Em 3 anos atrás 401

Ministro Marcelo Queiroga

Mensagens de texto pelo celular e até uma visita em casa de um agente de saúde estão no pacote de ações dos municípios brasileiros para encontrar as pessoas que receberam a primeira dose de vacina contra a Covid-19, mas não apareceram para a segunda dentro do prazo indicado. São cerca de 1,5 milhão no país, conforme dados do Ministério da Saúde, que contabiliza 12 milhões de imunizados, com duas doses.

As estratégias de busca ativa são possíveis porque existe um registro eletrônico dos imunizados, com nome e dados pessoais incluindo telefone e endereço. Correr atrás daqueles que perderam a janela adequada de tempo, que é de 14 a 28 dias para a CoronaVac e de 12 semanas para a vacina de Oxford/AstraZeneca, porém, não deve ser encarado como solução. Especialistas alertam que a imunidade contra o coronavírus pode ficar prejudicada nesses casos: a orientação é que os atrasados procurem tomar a segunda dose o mais rápido possível.

Para entender os planos de busca dos “fujões”, o Globo consultou as secretarias estaduais de saúde de Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, os três estados elencados pelo governo federal como os que têm mais indivíduos que se perderam no calendário vacinal, além das secretarias municipais de suas capitais.

No Rio, agentes comunitários e profissionais da secretaria estão mobilizados para a tarefa de caçar os “desertores” em suas residências.

Em Salvador, além dos contatos telefônicos e da eventual busca no endereço cadastrado, a gestão conta ter ampliado os pontos de aplicação da segunda dose. Outra medida da capital baiana para estimular o retorno é oferecer aos idosos um agendamento online de um horário para a aplicação da vacina que falta ser feita.

A cidade de São Paulo, por sua vez, informa que os funcionários das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) próximas das casas dos faltosos ganharam a missão de contatá-los e também de ouvir deles os seus motivos para a abstenção. A lista de justificativas reunidas nesse processo ainda não foi divulgada.

Além disso, a prefeitura conta com a ajuda de um alerta enviado por SMS para os pacientes pelo sistema Vacivida, desenvolvido pelo governo estadual para o pré-cadastro dos imunizados. Essas mensagens são disparadas dois dias antes da data recomendada para se tomar o reforço.

Iniciativas como essa, para relembrar a necessidade de comparecimento antes que o atraso ocorra, porém, ainda são raras no Brasil. Elas deveriam ser ampliadas para “termos a menor taxa de abandono possível”, destaca Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

— Essas estratégias preventivas funcionam mais do que você correr atrás depois — explica o médico. — Geralmente em vacinas com mais de uma dose há uma perda [de público]. Isso é um clássico, mas devemos buscar minimizar as razões para o abandono — ressalta.

Falha de comunicação

Para Carla Domingues, epidemiologista que foi coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) até outubro de 2019, esses atrasos são uma consequência da falta de diretrizes federais para a campanha em curso.

— Não houve qualquer estratégia de comunicação para a primeira dose e, principalmente, para a segunda — avalia. — Não estamos fazendo agendamento nem organizando essas filas de vacinação. Ficamos aguardando a demanda espontânea.

Denise Garrett, médica brasileira radicada em Washington, nos Estados Unidos, onde é vice-presidente do Instituto Sabin, conta que por lá e-mails e telefonemas dias antes da segunda dose ajudam a relembrar o compromisso e, no momento da primeira aplicação, também é praxe reforçar a importância de completar o esquema recomendado pelo fabricante da vacina, sem o qual a imunidade não está garantida.

— Quando você vai tomar a primeira dose tem que ouvir que é importante voltar, porque você não está protegido só com uma dose. São estratégias para diminuir a perda. O ideal é sair da primeira dose com dia, hora e local para retornar, uma marcação exata para o paciente no seu cartãozinho — afirma a cientista.

O Ministério da Saúde respondeu que “prepara uma campanha nacional de utilidade pública para fazer o chamamento da população para tomar a segunda dose da vacina”. Segundo a pasta, tal campanha ainda será veiculada na televisão, rádio e internet.

Questionado se o número de atrasados, divulgado no dia 13 de abril, de 1,5 milhão de pessoas, diminuiu ou mesmo cresceu desde o alerta inicial, o ministério não respondeu.

Divergência

Os três estados apontados pela Saúde como os campeões nas faltas para a segunda dose contestam os dados federais. Na tabela do PNI, são 343,9 mil pendências em São Paulo, 148,8 mil na Bahia e 143 mil no Rio de Janeiro.

As secretarias estaduais, porém, reconhecem 278,3 mil faltosos para São Paulo e 21,6 mil para a Bahia. A demora dos municípios para a inserção no sistema eletrônico dos dados relativos a doses já aplicadas é uma das razões apontadas pelos gestores estaduais para explicar a diferença na contagem. O estado do Rio de Janeiro também faz essa argumentação, mas não divulga uma estimativa que consideraria mais fiel à realidade.

Nas capitais, a contagem das secretarias municipais apontou para 81 mil atrasados em São Paulo, 39 mil no Rio e 12 mil em Salvador.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) reforçam que, na sua visão, os dados do Ministério da Saúde, pela lentidão na atualização, tendem a mostrar mais faltosos do que na realidade existem no país.

— Claro que há pessoas que deixaram de ser vacinadas com a segunda dose: as que faleceram, que se deslocaram, até as que ninguém encontra, mas não é este número que está sendo apresentado — argumenta Wilames Freire, presidente do Conasems.

Fonte: Paraíba Notícia e o Globo