por Valter Nogueira - 5 anos atrás
Orgulho e preconceito
Por décadas os norte-americanos dominaram a indústria automobilística, até a crise do petróleo, na década de 1970, revelar que seus veículos eram obsoletos; modelos ultrapassados, dimensões desnecessárias e grandes consumidores de combustível. Resultado: os japoneses entraram em cena e dominaram o mercado com carros mais compactos, econômicos, designers modernos e preços competitivos.
Atormentados com a derrota – pensavam que eram imbatíveis -, apelaram para tudo, até para o preconceito. Promoveram uma campanha publicitária apelativa, mas sem sucesso, em que imploravam aos americanos que não comprassem carros japoneses porque os veículos eram pequenos, e que serviam apenas ao povo japonês que, em média, era de baixa estatura. E arrematavam dizendo que o povo norte-americano era alto, grande, poderoso, assim como os seus carros – nada disso surtiu efeito. Os ‘japa’ continuaram a dominar o mercado.
Aconteceu que a crise econômica e o bolso apertado foram levados em conta na hora de comprar um carro novo, ou mesmo trocar de veículo. E, com isso, a indústria do automóvel americana, com sede em Detroit, no Estado de Michigan, entrou em bancarrota. Detroit, considera até então a Capital Mundial do Automóvel, virou uma cidade fantasma – hoje, está em processo de revitalização.
Para resumir, em meio a decepção, raiva e preconceito, os americanos tiveram que engolir o orgulho e se renderam a mentes brilhantes de novos executivos da General Motors (GM), convocados para ‘salvar a lavoura’, por assim dizer.
A força e as inovações da indústria automobilística japonesa levaram a GM, no início da década de 1970, a lançar um ambicioso programa tendo em vista a remodelação de todos os seus produtos para que se tornassem mais econômicos e competitivos. Assim, os carros passaram a ser mais leves e menores, sem prejuízo do conforto. Em 1984, a GM associou-se à Toyota para produzir um pequeno carro, o Chevrolet Nova, que foi lançado no mercado em 1985. Foi uma aliança até então inédita entre uma firma americana e outra japonesa.
A mudança ocorreu porque os novos executivos colocaram o dedo na ferida, ao dizer que não era com preconceito ou apelações que o problema seria resolvido. A saída era outra, apontava as novas mentes brilhantes da montadora: sair da zona de conforto, olhar além do umbigo, perceber que o mundo mudou, que novas tendências surgiram com a exigência de um mercado sempre em movimento, em ebulição.
A lição que fica é que, primeiro, é na derrota, nos revezes que conhecemos os verdadeiros líderes, as mentes brilhantes, os verdadeiros campeões. Pois a derrota é pedagógica, deve nos levar à reflexão: saber onde erramos, antes de colocar a culpa em terceiros. E, por fim, corrigir as falhas, levantar e dar a volta por cima.
De forma contrária, e por vezes, os medíocres recorrem a bodes expiatórios para explicar seus fracassos, justificar a incompetência. Lançam mão de preconceitos, de apelações e de toda sorte de maldades. Mas, o mais importante, é que a verdade sempre aparece. E, os bons, dão a volta por cima, com inteligência, sabedoria e, o mais incrível, jogando limpo.