por Valter Nogueira - 3 anos atrás
O desencalhe do Ever Given
O navio Ever Given (Evergreen é o nome da transportadora) finalmente foi desencalhado na madrugada desta segunda-feira (29), depois de obstruir por seis dias o Canal de Suez, uma das maiores rotas comerciais do mundo. O encalhe provocou um prejuízo diário de cerca de U$ 10 bilhões. É a primeira vez que o canal é fechado por conta de um incidente natural; já foi obstruído por conflitos.
É o Canal de Suez que torna o Egito importante na geopolítica mundial. O país, por alguma razão, pode, de uma hora pra outra, decidir fechar a hidrovia — não deve, mas pode. Caso isso ocorra, o mundo retrocede 500 anos, em termos de navegação.
A via permite que navios viajem entre a Europa e a Ásia Meridional sem ter de navegar em torno de África, reduzindo assim a distância da viagem marítima entre o continente europeu e a Índia em cerca de 7 mil quilômetros — distância entre Recife e Lisboa, aproximadamente.
Atualmente, 50 grandes navios, em média, atravessam a hidrovia diariamente, o que rende aos cofres do Egito algo entre 5 e 6 bilhões de dólares por ano.
Obra
Proeza da engenharia, o canal de Suez é uma via navegável artificial a nível do mar, localizada no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho (golfo de Suez). A hidrovia não contém eclusas, justamente por ter sido construída em uma área ao nível do mar; a água do mar flui naturalmente pelo canal.
Construído por um consórcio de empresas francesas e britânicas, o canal foi inaugurado em 17 de novembro de 1869, após 10 anos de construção.
Conflitos
Atualmente a via navegável é mantida pela Autoridade do Canal do Suez (SCA), do governo do Egito. Mas nem sempre foi assim.
O canal de 193 km foi, por vezes, motivo de conflitos. No início, a obra pertencia a empresas francesas, isso quando o Egito ainda era controlado pelo Império Otomano. Depois, os britânicos passaram a controlar o canal, ao lado da França.
Em 26 de julho de 1956, o líder egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou a companhia do canal. Os principais acionários do canal eram, então, os britânicos e os franceses. Além disso, Nasser denuncia a presença colonial do Reino Unido no Oriente Médio e apoia os nacionalistas na Guerra da Argélia.
O Reino Unido, a França e Israel se lançam então numa operação militar, batizada Operação Mosqueteiro, em 29 de outubro de 1956. A Crise do Canal de Suez durou uma semana. A ONU confirmou a legitimidade egípcia e condenou a expedição franco-israelo-britânica com uma resolução.
Com a Guerra dos Seis Dias em 1967, o canal permaneceu fechado até 1975, com uma força de manutenção da paz da ONU, a qual permaneceu lá estacionada até 1974. Por ocasião da Guerra do Yom Kipur, em 1973, foi recuperado o canal, bem como foram destruídas as fortificações do exército israelense ao longo da hidrovia.