por Valter Nogueira - 4 anos atrás
Governo & Liderança
Ao que tudo indica, Jair Bolsonaro não governa mais. Antes, porém, luta para sobreviver no cargo de presidente. Todo esforço do chefe do poder executivo está sendo direcionado a resolver problemas da atual crise política – em grande parte criada por ele mesmo.
Nessa sexta-feira (19), o presidente Bolsonaro enviou ministros do governo a São Paulo para um colóquio com o ministro Alexandre de Moraes. O objetivo é buscar reaproximação com o Supremo Tribunal Federal. Na mesma linha, procura construir um canal de diálogo com o ministro Luiz Fux, futuro presidente da Suprema Corte.
Ciente de que não tem o apoio que imaginava ter das Forças Armadas, o presidente Bolsonaro se viu sem chão para os rompantes de arrogância; ficou sem voz para gritar, não encontra força para intimidar. De forma tardia, percebe, agora, a importância da principal arma da democracia, qual seja: o diálogo.
Para o bem do país, espera-se que o presidente acerte o passo.
Perdeu o trem
Ao abdicar de governar, Bolsonaro perdeu a oportunidade de se transformar em grande líder. A chance apareceu em março, ocasião em que o presidente deveria ter chamado para si a responsabilidade de liderar a crise de saúde pública no país.
No momento em que o país esperava um presidente anunciar um esforço conjunto para enfrentar a crise, o que se viu foi um gestor provocar divisões, ao promover ações contrárias à ciência e à técnica.
Reunião Ministerial
A reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril deste ano foi agendada para debater o novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), sugerido pelo general Braga Netto. O vídeo da reunião mostrou outra coisa, infelizmente.
As imagens revelaram um presidente preocupado com o fato de que nem todos os ministros se empenhavam em defendê-lo. E nem se alinhar com seu discurso contra as medidas de isolamento social defendidas por governadores e prefeitos.
Pouco se falou sobre o assunto que motivou a reunião, o novo PAC.
Descompromisso
O país não tem ministro da Saúde desde a saída de Mandetta. E nunca teve ministro da Educação.
Crise interna
Como se não bastasse a crise política externa, o presidente provocou crises internas. Primeiro, na Saúde, ao desconsiderar às recomendações de Mandetta. Em seguida, na área de Justiça e Segurança, com Sérgio Moro.
Saída de Mandetta
Pouca gente sabe, mas a saída de Mandetta se deu a partir de um contrato entre as partes. Objetivo: o silêncio do ministro em alguns assuntos e a certeza de que Mandetta não emprestaria seu know how a governos, nem à iniciativa privada.
O contrato imposto pelo Planalto a Mandetra veio à público. Denominado Quarentena Remunerada, o documento garantiu a Mandetta salário de ministro por seis meses. Nesse período, ele fica impedido de assumir cargos.
O Planalto, de certa forma, temia que Mandetta brilhasse fora do governo federal. Não quis correr o risco de ver o ex-ministro provar a eficácia do seu método quanto ao enfrentamento ao novo Coronavírus. Isso seria um golpe fatal à tese do presidente, que era e continua sendo contrária à técnica.