por Valter Nogueira - 3 anos atrás
A renúncia dos comandantes das Forças Armadas
Pela primeira vez na história, os três comandantes das Forças Armadas pediram demissão conjunta, nesta terça-feira (30), por discordarem do presidente da República. A renúncia conjunta revela a maior crise entre governo e a área militar, desde 1977, quando o então presidente Ernesto Geisel demitiu o general Sylvio Frota, à época ministro do Exército.
A renúncia conjunta ocorre um dia após o presidente Bolsonaro demitir o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. Azevedo deixou o cargo nessa segunda-feira (29).
Entregaram os cargos os oficiais generais Edson Leal Pujol (general), Ilques Barbosa (almirante) e Antônio Carlos Bermudez (brigadeiro), respectivamente comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Eles reafirmaram que os miliares não participarão de nenhuma aventura golpista.
O general Walter Braga Netto foi indicado para assumir o Ministério da Defesa. Fontes de Brasília dão conta de que Braga Netto, na reunião com os três comandantes, tentou dissuadi-los da renúncia coletiva – mas sem sucesso.
Ainda de acordo com as fontes, houve momentos de tensão na reunião entre Braga Netto e os comandantes. Ao final, na tentativa de amenizar a dimensão da crise, a Nota emitida pelo Ministério da Defesa diz que os comandantes serão substituídos, para não dizer que eles pediram para sair – o que ocorreu de fato.
Grito de alerta
Há um grito ecoando nos céus de Brasília: militares estão se unindo a outros poderes e segmentos da sociedade para parar o que classificam de “insanidades” do presidente Jair Bolsonaro. E o estopim foi a saída do general Fernando Azevedo e Silva, demitido do cargo de Ministro da Defesa.
O general Azevedo confirmou, recentemente, a crescente insatisfação das Forças Armadas com o governo e com o próprio capitão insubordinado Jair Bolsonaro. “Nem os militares aguentam mais” – teria dito Azevedo.
Ordem, progresso, disciplina e hierarquia, sim, sempre. Mas tudo tem limite, o que pode ser comprovado com a decisão de Azevedo e Silva. Para o agora ex-ministro, a lealdade das Forças Armadas não é com o governo de plantão, muito menos com um governo errático e de viés autoritário. É com o Brasil.
A maioria dos oficiais generais não engole a ideia do presidente de levar as Forças Armadas, a todo custo, a um alinhamento automático que engula os brios e os princípios das Forças Armadas para participar de qualquer tipo de ameaça à democracia vigente no País.
Capitão insubordinado
Pouca gente deve saber, mas Bolsonaro foi um mau militar; um capitão insubordinado. No início da década de 1980, após ver que não tinha vida longa na carreira militar – por incapacidade intelectual –, decidiu por em prática um plano um tanto quanto terrorista, por assim dizer: explodir unidades militares no Rio de Janeiro.
Enfrentou processo; na primeira instância foi considerado culpado, à unanimidade, por uma Junta Militar. Como se tratava de um oficial (se fosse soldado, expulsão na hora), a cúpula militar tentou uma saída menos traumática: o capitão deixou a farda para não ser expulso.