Casos de depressão dobram no Brasil em consequência da pandemia do novo coronavírus

Casos de depressão dobram no Brasil em consequência da pandemia do novo coronavírus

Por Edmilson Pereira - Em 4 anos atrás 574

Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio (UERJ) mostrou que os casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram e os de depressão tiveram um crescimento de 90% durante a pandemia. Com esses dados, vemos que os transtornos mentais estão aumentando e que, mesmo após a pandemia, os números devem continuar crescendo.

Paralelamente aos problemas de saúde causados pelo novo coronavírus e pelas mortes diretamente ligadas à covid-19, a pandemia no Brasil cria outros entraves de saúde pública com os quais é preciso lidar. Especialistas têm chamando esses fatores de ondas. A primeira é a da própria pandemia. A doutora em psiquiatria Alexandrina Meleiro, vice-presidente da Comissão de Saúde Mental do Médico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudo e Prevenção de Suicídio (ABEPS), explica que a segunda onda é a de pacientes oncológicos e de outras doenças graves que estão ficando sem tratamento; a terceira, a de pessoas com enfermidades crônicas que deixaram de tomar medicamentos de uso contínuo, por medo de sair de casa para obter receitas; e a quarta, a dos transtornos mentais.

Com dados da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a médica alega que os casos de depressão dobraram durante a pandemia e os de ansiedade e estresse aumentaram em 80%. “O mais preocupante é que a quarta onda não começou depois da primeira, da segunda e da terceira. Ela se iniciou lá atrás, junto com a própria pandemia. E, diferentemente das outras, que terminam com o controle da covid-19, ela deve continuar. A expectativa é de que ela perdure por mais dois anos”, lamenta.

Mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o país com mais deprimidos na América Latina e com mais ansiosos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Agora, o isolamento, a sobrecarga de trabalho doméstico e profissional, e a crise econômica e política são gatilhos a mais com os quais os brasileiros têm precisado lidar e que vêm piorando a saúde mental da sociedade.

De acordo com o psiquiatra Michel Haddad, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), são 12 milhões de pessoas sofrendo de depressão e 18,6 milhões enfrentando a ansiedade no país. “O tripé genética, manifestações biológicas e ambiente desencadeiam as doenças. Um ambiente tão desfavorável, com tantos estressores, com a pandemia e as consequências dela, pode desarranjar o funcionamento do organismo”, explica.

Rodeada de incertezas

Doutorando do programa de biologia microbiana da Universidade de Brasília, Clara Vida Carneiro, 26 anos, voltou a trabalhar no laboratório há cerca de um mês. Foi difícil ficar longe. Ela já havia vivenciado ansiedade e depressão por conta das “truculências da academia”, há dois anos, quando terminava o mestrado. Isso a fez refletir bastante antes de entrar no doutorado. Chegou à conclusão de que seguiria em frente, mas tentando não se cobrar tanto, e “não se esgoelar por coisas sobre as quais não tem controle”.

Fonte: Paraíba Notícia e Correio Braziliense