Brasil tem 52 milhões vivendo em condição de pobreza, aponta IBGE
Por Wamberto Ferreira - Em 7 anos atrás 942
No Brasil, a ascensão no mercado de trabalho ocorre a passos lentos. Metade dos brasileiros consegue alcançar um estrato social melhor do que o ocupado por seus pais, mostra a Síntese de Indicadores Sociais 2017, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. Mas poucos avançam em saltos de longa distância — ou seja, sobem mais do que dois “degraus” na pirâmide social. Além disso, a mobilidade educacional é maior. A parcela dos brasileiros que conclui nível de instrução superior a de seus pais é de 68,9%.
Na base da pirâmide, estão os trabalhadores agrícolas. Em um terço das famílias deste grupo, os filhos se mantêm no mesmo tipo de ocupação. Em pouco mais de metade dos casos (51,8%), a segunda geração dá dois saltos na escala ocupacional — ou seja, os filhos ascendem para o estrato E (domésticas, auxiliares de serviços gerais, vendedores em lojas ou supermercados, entre outros) ou para o estrato D (como motoristas ou trabalhadores na construção civil). E apenas em 15,4% há um avanço de longa distância, para os estratos C (trabalhadores do serviço administrativo), B (técnicos de ensino médio) ou A (dirigentes ou profissionais das ciências ou das artes).
— O Brasil, apesar de ser extremamente desigual, vivenciou mobilidade considerável. Mas essa mobilidade se concentrou nos estratos mais baixos. Ela é fruto do processo de urbanização: da substituição de ocupações mais agrícolas para o conjunto de ocupações urbanas — explica Betina Fresneda, analista na coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
Filho de uma agricultora que estudou até o 4º ano do ensino fundamental e de e um barbeiro, Cícero Weliton da Silva Santos, de 31 anos, é uma dessas exceções. Se tornou advogado e ganha uma média de R$ 6,5 mil mensais como contratado de um escritório de advogacia em Teresina (PI), onde mora. Como assume outras causas, pode ganhar até R$ 10 mil mensais, como ocorreu neste mês de dezembro.
O pai morreu quando tinha dez anos. A mãe sustentou a família como lavradora e sua única renda era o dinheiro que recebia vendendo o excedente dos alimentos produzidos na lavoura para consumo próprio. Para chegar a trabalhar como advogado, ter carro, apartamento num bairro de classe média alta da capital do Piauí e viajar ao exterior com a esposa, trabalhou como contínuo em uma loja de departamentos, como caixa em uma casa lotérica e como cobrador de ônibus.
Cícero deixou a zona rural, onde nasceu e foi trabalhar e estudar em Teresina aos 16 anos. Fez faculdade com ajuda do programa de bolsas Prouni, do governo federal. Ganhou 80% de desconto nas mensalidades.
– Eu sou a primeira pessoa de minha família com curso superior, agora é que minha irmã está fazendo Direito. Acho que conseguir ter uma renda melhor do que a de meus pais por conta da educação. É sabido, por todos, que quem vem do interior tem uma certa dificuldade. Se o jovem pretende cursar e ingressar em uma faculdade tem que se dirigir à capital, onde tem mais opções de cursos superiores. É a educação que faz a diferença – disse o advogado.
O padrão de ascensão de fôlego curto se repete nos outros estratos sociais. No estrato E, 35,1% se mantêm no mesmo tipo de ocupação dos pais e 34,1% avançam dois degraus. Apenas 28,2% alcançam um salto superior. No estrato D, apenas 15,2% dos filhos conseguem chegar ao topo da pirâmide, ou seja, subindo mais do que dois degraus na estratificação ocupacional.
Redação e O Globo