AUMENTOS: Alimentos pressionam alta da inflação; consumidores estão preocupados

AUMENTOS: Alimentos pressionam alta da inflação; consumidores estão preocupados

Por Edmilson Pereira - Em 4 anos atrás 490

Dados divulgados pelo  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a inflação oficial brasileira acelerou de 0,64%, em setembro, para 0,86% em outubro. A taxa é a mais alta para o mês nos últimos 18 anos, e foi ainda maior para a população mais pobre, que é mais afetada pelo preço da cesta básica: 0,89%. Por isso, puxou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 3,92% no acumulado nos últimos 12 meses, deixando o indicador bem perto da meta de inflação, que é de 4% em 2020. O Banco Central (BC), diz que está tranquilo, pois acredita que esse choque inflacionário é temporário.

Em outubro, o vilão do aumento de preços, mais uma vez, foi a alimentação. De acordo com o IBGE, a inflação desse grupo subiu 1,93% no mês, influenciada pela alta de 2,57% dos alimentos para consumo no domicílio. A elevação é fruto da disparada de preços de produtos essenciais para a mesa dos brasileiros, como arroz (13,36%), óleo de soja (17,44%), tomate (18,69%), batata-inglesa (17,01%) e carnes (4,25%), que vêm sendo pressionados já há algum tempo pela alta do dólar.

“O aumento do dólar encarece as commodities e aumenta as exportações brasileiras, o que eleva o preço e reduz o abastecimento do mercado interno”, explicou o coordenador dos índices de preço da Fundação Getulio Vargas, André Braz. Ele diz ainda que, como o dólar continua acima dos R$ 5,30, esses preços não devem ceder nos próximos meses. A perspectiva é de que haja uma trégua só no início do próximo ano, quando começar a safra brasileira, mesmo depois de o governo ter zerado a tarifa de importação do arroz, da soja e do milho, já que essa medida vem mais para evitar que os preços continuem subindo do que para baixá-los.

Tudo indica, portanto, que a inflação dos alimentos vai chegar a dois dígitos neste ano, pois eles já ficaram 9,37% mais caros neste ano, segundo o IBGE. Kananda diz que vai continuar deixando algumas coisas no mercado. “Os preços estão nas alturas, tudo aumentou bastante. Eu gastava R$ 300 por mês com alimentação. Hoje, são R$ 500”, lamenta.

Para o IPCA como um todo, o mercado projeta um resultado entre 3% e 3,5% neste ano, já que os outros grupos de produtos desaceleraram na pandemia. Os analistas, contudo, estão cada vez mais preocupados com esse choque inflacionário. É que, além de estar se mostrando persistente, o aumento de preços está cada vez mais espalhado. O IPCA de outubro, por exemplo, revelou mais uma alta dos alimentos, mas também avanços expressivos nos preços de transportes (1,19%), artigos de residência (1,53%) e vestuário (1,11%), que subiram devido ao dólar e por conta da volta da demanda. Só as passagens aéreas dispararam 39,83% diante da retomada do movimento nos aeroportos.

Com isso, a difusão da inflação, que era de 55,44% no início do ano, chegou a 68,17%, maior leitura desde março de 2016, segundo os analistas. Por isso, o mercado já teme que esse choque inflacionário seja mais longo e mais difundido do que o projetado inicialmente. “Há um receio em relação à volta desse choque, pois quanto mais demora, menor é a volta. Ou seja, se demorar muito, a inflação não vai voltar toda, e vai ficar num patamar acima do anterior ao choque”, explicou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

O diretor de Política Econômica do BC, Fábio Kanczuk, admitiu ontem que, se a projeção de inflação de 2021 subir para perto da meta, que é de 3,75% no próximo ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode abandonar o compromisso de manter a taxa básica de juros (Selic) na mínima histórica de 2% ao ano. E as revisões já começaram. A XP, por exemplo, elevou de 2,6% para 3,6% a sua projeção para o IPCA de 2021. Ainda assim, o mercado acredita que possíveis ajustes dos juros só virão em 2021.