“Amigo irmão”: Presidente Lula aceita indicar aliado de Arthur Lira, próximo a Bolsonaro e pró-Aécio para o Ministério do Turismo
Por Edmilson Pereira - Em 2 anos atrás 572
Cotado para comandar o Ministério do Turismo no lugar da deputada federal Daniela Carneiro (União-RJ), o também deputado federal Celso Sabino (União-PA) não esconde a proximidade com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nem o passado de alinhamento ao bolsonarismo. Se confirmada a mudança, o parlamentar assumiria pasta para atender a um pedido do líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA).
Uma eventual troca na cadeira ocupada por Daniela Carneiro, uma das duas parlamentares do União Brasil na Esplanada dos Ministérios, poderia amenizar atritos na Câmara sem desagradar o senador Davi Alcolumbre (União-PA). Ele articulou as indicações dos ministros Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional).
Filiado ao União Brasil desde a fundação do partido, em 2022, Sabino demonstrou postura dúbia em relação ao governo em votações sensíveis. Na última semana, foi favorável à MP dos Ministérios, pauta prioritária do Planalto, e também votou para chancelar o texto-base do arcabouço fiscal, cuja aprovação contou com a articulação de Lira na Câmara. No entanto, o parlamentar se alinhou à oposição na discussão do projeto que define um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, uma das mais recentes derrotas do governo junto ao Congresso.
Na Câmara e nas redes, Sabino não omite as estreitas relações com Lira, a quem já se referiu como “amigo irmão” em uma publicação de 2022. Na ocasião, ele fez uma postagem homenageando o cacique por seu aniversário: “Hoje é o dia de celebrar a vida deste amigo irmão, que tem se dedicado muito pra fazer a diferença para o nosso país, em um dos momentos mais difíceis da nossa história contemporânea”.
Em 2021, o deputado ocupou um cargo de destaque na Câmara ao presidir a Comissão Mista de Orçamento, responsável por discutir a proposta enviada pelo Executivo e realizar alterações de olho em demandas das bancadas e do governo. À época já estavam valendo os repasses das emendas de relator, instrumento conhecido como orçamento secreto.
Antes de ingressar no União Brasil, Sabino estava no PSDB, e teve participação decisiva na rejeição dos pedidos junto à Executiva Nacional do partido tucano que pediam a expulsão de Aécio Neves da legenda, em 2019. Em seu parecer como relator, Sabino considerou “ineptos” os requerimentos para a saída do mineiro. A decisão pela permanência do tucano no partido impôs uma derrota ao então governador de São Paulo, João Doria, que chegou a cobrar que Sabino deixasse a legenda.
Na época, Aécio era réu no processo relativo ao episódio em que foi gravado, em março de 2017, pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS. Sabino também chegou a ser citado na Lava-Jato, aparecendo em uma lista de políticos que teriam recebido verbas da Odebrecht na campanha de 2014. A investigação, no entanto, não avançou.
Sua postura nas redes também gerou incômodo entre correligionários tucanos. Em 2020, ele embarcou com o então presidente Jair Bolsonaro ao Pará, seu estado natal, para participar da primeira etapa de inauguração das obras do Porto Futuro. Depois da solenidade, publicou nas redes uma foto em que aparece apertando a mão do ex-mandatário.
A postagem indignou tucanos, que pediram a expulsão do parlamentar da legenda por “violação ao estatuto e à ética partidária”. A movimentação pela saída chegou ao Conselho de Ética do partido ainda em 2020, quando a Executiva Nacional do PSDB encaminhou o pedido de avaliação.
À insatisfação por conta da proximidade com Bolsonaro, somou-se um anúncio feito por Sabino de que assumiria o cargo de líder da Maioria na Câmara durante o governo passado. De acordo com o PSDB, a decisão feria o estatuto de ética da legenda. Mesmo alvo do processo de expulsão do partido, mas em 2021, após os atritos com a direção, se desfiliou por conta própria.
Em agosto de 2021, Sabino entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para oficializar a saída — o processo é obrigatório quando o parlamentar em exercício busca deixar o partido fora da janela partidária sem perder o mandato.
No pedido protocolado no TSE, ele argumentou, entre outros pontos, que foi preterido no recebimento de recursos partidários quando concorreu nas eleições de 2014 e 2018. Formado em Administração, Sabino começou a trajetória política em 2010, filiado ao então PR, hoje conhecido como Republicanos, quando foi eleito deputado estadual na Assembleia Legislativa do Pará. Em 2013, se filiou ao PSDB e conseguiu ser reconduzido ao cargo no ano seguinte. Em 2018, foi eleito um dos representantes do Pará na Câmara dos Deputados, ainda pelo PSDB.
Fonte: O Globo
Foto: Lauro Pimentel/AFP