Empresário paraibano compra 50% da chinesa Chery no Brasil por US$ 60 milhões

Empresário paraibano compra 50% da chinesa Chery no Brasil por US$ 60 milhões

Por Elison Silva - Em 7 anos atrás 1847

O grupo Caoa, do paraibano, de Campina Grande, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que é dono de concessionárias de três marcas e produz automóveis da Hyundai em Anápolis (GO), decidiu apostar no crescimento da chinesa Chery no Brasil. A empresa brasileira adquiriu 50% da operação local da montadora chinesa, conforme acordo anunciado neste sábado (11). A companhia pagará cerca de US$ 60 milhões pelo negócio, que inclui uma fábrica na cidade paulista de Jacareí e a rede de revendas.

Inaugurada em junho de 2014, pouco antes da eclosão da crise econômica que fez o Produto Interno Bruto (PIB) recuar nos três anos seguintes, a fábrica da Chery consumiu US$ 400 milhões em investimentos e tem capacidade para produzir até 50 mil carros por ano. A companhia, no entanto, nunca chegou a montar mais de 10 mil unidades ao ano. A Chery buscava um sócio para a operação brasileira desde o início do ano passado.

A Caoa começou a negociar a parceria com os chineses ainda em 2016, conta o presidente do grupo, Mauro Correia. Depois de um período em que as conversas foram interrompidas, as partes voltaram a se falar neste ano. Entre idas e vindas, o executivo diz que as conversas levaram menos de 18 meses, o que ele considera um período curto para um acordo desse porte. A nova empresa passará a se chamar Caoa Chery.

Correia espera que o conhecimento que a Caoa tem do mercado local possa ajudá-la a concretizar projetos que a Chery, sozinha, não conseguiu levar adiante. Além de produzir carros da Hyundai, a companhia nacional tem concessionárias da marca coreana, da japonesa Subaru e da americana Ford.

De acordo com Correia, os planos para os próximos anos são ambiciosos: o objetivo da Caoa é lançar novos produtos a partir de 2018 para chegar, depois de um período de cinco anos, a uma participação de 5% no mercado brasileiro de automóveis. “Vamos complementar o portfólio e também reforçar a rede de distribuição, além de usar a nossa capacidade de marketing”, diz o executivo. “Acredito que essa meta é até conservadora.”

Chery Tiggo 5 – produzido no Brasil

Atualmente, a Chery tem apenas dois modelos produzidos no Brasil: o QQ, carro mais barato do País, e o Celer. A companhia tem na manga outros produtos que teriam boa aceitação no Brasil, de acordo com Correia. Os automóveis da chinesa poderiam ser opção de bom custo-benefício para que consumidores que hoje usam carros mais básicos possam ter acesso a opções de veículos de maior valor agregado.

“Vamos oferecer produtos com tecnologia de ponta e design moderno para que o consumidor possa acessar uma nova categoria, a preços bem competitivos”, diz o presidente da Caoa. O executivo não revelou quais modelos pretende trazer ao Brasil, mas a própria Chery chegou a anunciar investimentos ambiciosos em projetos como o SUV Tiggo, que acabaram sendo adiados por causa da forte retração do mercado no País.

Atingir a meta de 5% de mercado faria a Chery ter uma fatia superior à exibida hoje por concorrentes como a Nissan e a Jeep – que detêm, respectivamente, 2,98% e 3,87% do total de emplacamentos de veículos, segundo o relatório da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) referente a outubro. Hoje, a liderança do setor de veículos é da americana General Motors, com 19,33%, seguida pela Ford (11,07%), Volkswagen (10,71%), Hyundai (10,31%) e Fiat (8,93%).

Produção. Além de reduzir a capacidade ociosa da unidade da Chery em Jacareí, a companhia também deverá usar parte de sua unidade em Anápolis (GO) para a produção de veículos da montadora chinesa. Correia, da Caoa, afirma que a unidade da Chery foi planejada em formato modular, o que amplia a versatilidade da produção, que permite a troca mais constante do portfólio produzido. Ou seja: é fabricado um menor número de unidades, com variedade maior de modelos.

Em relação ao desempenho geral do mercado, Correia diz preferir um crescimento moderado e constante do que um novo “pico” de produção, como o vivido pelo Brasil no início da década. Ele acredita que o setor de veículos deve fechar o ano com volume de 2,1 milhões a 2,2 milhões de unidades, com nova expansão moderada em 2018. Para que os projetos de montadoras sejam economicamente viáveis no Brasil, o executivo diz que será preciso pensar o País como plataforma de exportação.

O presidente do grupo Caoa, Mauro Correia, desconversa quando o assunto são os novos carros que a Caoa Chery produzirá no Brasil, mas afirma que a empresa oferecerá novos produtos já a partir do ano que vem. “Os novos produtos terão preços competitivos, mas não agressivos”, diz o executivo. O mais cotado para ser o primeiro a chegar é o Tiggo 2.

A produção da pré-série do utilitário-esportivo teve início em julho, na fábrica de Jacareí (SP). Por ora, os carros que estão saindo da planta servem para alinhar a montagem e os processos de fabricação. Segundo as informações divulgadas pela Chery durante o Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro do ano passado, o Tiggo 2 será rival de SUVs compactos como Ford EcoSport, que parte de R$ 76.990, e Renault Duster, cuja tabela começa em R$ 69.490.

O Tiggo 2 será vendido no Brasil com motor 1.5 e, inicialmente, câmbio manual. A opção de transmissão automática CVT (com relações continuamente variáveis) será oferecida após alguns meses do lançamento. De série, o utilitário trará itens como airbags laterais e controle de estabilidade, entre outros.

Outra aposta da empresa sino-brasileira pode ser o sedã médio Arrizo 5, cuja estreia no País estava prevista inicialmente para o segundo semestre deste ano. O modelo, lançado no mercado chinês em março do ano passado, destaca-se pela ampla lista de equipamentos de série.

Entre os destaques do veículo há sistemas como partida do motor sem uso de chave (por meio de botão), teto solar e câmbio automático CVT, que simula sete marchas no modo manual. Há ainda controle de estabilidade e um sistema multimídia que pode ser conectado à internet e funciona com informações armazenadas na nuvem.

Tanto o Tiggo 2 como o Arrizo 5 que foram expostos no Salão de São Paulo mostraram sensível evolução em termos de acabamento em comparação com os modelos anteriores da Chery. Em ambos, a cabine, além de bem montada, apresenta boa percepção de qualidade.

Segundo fontes ouvidas pelo Jornal do Carro, o subcompacto QQ também receberá atenção especial da Caoa Chery. Carro mais barato do Brasil, é vendido a partir de R$ 25.990. É bem menos que o preço de rivais como o Fiat Mobi (R$ 34.210) e o Renault Kwid (R$ 29.990).

Qualidade. Correia diz que uma das metas é mostrar que os produtos da marca têm qualidade e nível tecnológico altos. Esse deverá ser o maior desafio da Caoa Chery, uma vez que o executivo admite que os carros chineses são, em geral, vistos pelo consumidor brasileiro como de baixa qualidade.

As experiências recentes de montadoras chinesas aqui não são das mais animadoras. A Geely, atual dona da sueca Volvo, chegou a estudar a construção de uma fábrica no Brasil. No entanto, acabou deixando o País em 2016, após pouco mais de dois anos de operação. Segundo um porta-voz da empresa, a alta do dólar nos últimos anos inviabilizou as operações, comandadas pelo grupo Gandini, o mesmo da coreana Kia.

A JAC Motors, por sua vez, teve cancelada a habilitação no Inovar-Auto pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em junho de 2016. O programa, que buscava aumentar o número de fábricas de automóveis no País e fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias, será substituído pelo Rota 2030 no ano que vem.

A JAC informa que protocolou no governo uma alteração no projeto original, mas não recebeu resposta. A alteração seria na fábrica, que ficaria menor e faria apenas a montagem em CKD (com peças importadas) do utilitário-esportivo T5.

A Great Wall chegou a divulgar, em 2012, que teria uma fábrica no País, mas até agora o projeto não avançou. No ano passado, a Zotye anunciou que teria uma planta em Goianésia (GO) em 2018. Um projeto de intenções foi assinado com o governo do Estado em abril do ano passado.

Redação e Agência Estado