Aliados no Congresso, PT, MDB, PSD e União Brasil devem disputar com candidatos próprios em 23 capitais o pleito de 2024
Por Edmilson Pereira - Em 1 ano atrás 627
Liderado pelo presidente Lula, o PT tende a enfrentar candidatos de União Brasil, MDB ou PSD em 23 das 26 capitais. A tríade de siglas de centro — que votou em peso para a aprovação da Reforma Tributária, quinta-feira (06), após “traições” em outros temas caros ao Palácio do Planalto — responde por nove ministérios. Mas, a pouco mais de um ano do pleito, seus caciques já avaliam como lidarão com a promessa do presidente Lula de se engajar em campanhas petistas às principais prefeituras.
As articulações estão em andamento. Em São Paulo, o racha é praticamente certo. A tendência é uma disputa polarizada entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que tenta amarrar o apoio do PT e reunir outras legendas de esquerda.
Há um componente a mais na capital paulista: a busca de Nunes pelo eleitorado bolsonarista, ainda sem um nome após a desistência do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP). Na semana passada, o prefeito posou para uma foto ao lado de Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, sigla que o prefeito tenta atrair.
A ofensiva também inclui o União Brasil, que no plano nacional está à frente de três ministérios: Comunicações, Turismo e Desenvolvimento Regional. O partido abriu uma discussão interna para definir os rumos e tem entre os postulantes o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), linha de frente da oposição a Lula. Nunes, por sua vez, pontua que a sigla já se manifestou “publicamente” no sentido de apoiá-lo.
Prioridades
Outro exemplo de antagonismo entre o PT e legendas de centro é Porto Alegre. O prefeito Sebastião Melo (MDB), provável candidato à reeleição, deverá ter pela frente um candidato do PT, como Edegar Pretto, que disputou o governo do Rio Grande do Sul no ano passado. Hoje à frente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ele evita falar em nomes, mas diz que a legenda busca construir uma candidatura de oposição ao emedebista junto com PSOL, PSB e PDT.
A estratégia está alinhada com a orientação do comando da sigla. Escolhido para organizar as táticas do pleito municipal, o senador Humberto Costa (PT-PE) diz que o foco está nas legendas historicamente mais alinhadas.
— Provavelmente, daremos prioridade aos que sempre têm nos acompanhado: PSOL, Rede, PDT e PSB. Discutiremos como compor com siglas de centro, caso a caso.
Em Salvador, o PT ainda não definiu se apoiará o pré-candidato do MDB, o vice-governador Geraldo Júnior, e tem ouvido cobranças por uma resolução. O diretório em Salvador apontou três possíveis nomes: a presidente da Funarte, Maria Marighella, o deputado estadual Robinson Almeida e a socióloga Vilma Reis.
O ex-deputado Lúcio Vieira Lima, à frente das negociações pelo MDB, ressalta que o partido deixou o bloco de apoio ao prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), que concorrerá à reeleição, para apoiar o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT) na disputa contra ACM Neto (União) no ano passado. Agora, a legenda cobra reciprocidade.
— Geraldo Júnior foi muito importante para a eleição de Jerônimo, porque dividiu a base de ACM Neto. Todo mundo imagina que o nome da base será ele — reforça Vieira Lima.
O vice-governador, por sua vez, afirmou que espera a “unidade do grupo político” para levar a candidatura adiante. Presidente do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) reconhece que as negociações pelo país indicam que haverá uma série de enfrentamentos com o PT em 2024, mas minimiza a hipótese de a aliança nacional ser abalada:
— Nas disputas pelas prefeituras, os fatores que influenciam no dia a dia são mais relevantes do que a briga ideológica. Não há reflexo dessas composições nos municípios com posicionamentos do partido enquanto bancada federal.
No Recife, PT, MDB e PSD devem compor com o prefeito João Campos (PSB), mas há uma dúvida sobre o União Brasil. O presidente nacional da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE), tem simpatia pela candidatura à reeleição, mas Mendonça Filho (PE), à frente da sigla na cidade, quer um nome de oposição.
No caso do PSD, um nó está em Curitiba. O vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) deve concorrer, enquanto o deputado federal Zeca Dirceu tenta viabilizar a candidatura pelo PT. Os dois partidos têm relação distante no Paraná — o governador Ratinho Júnior (PSD), por exemplo, declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno do ano passado.
‘Lealdade’ em jogo
No Rio e em Belo Horizonte, o PSD tem cobrado apoio dos petistas para os prefeitos da sigla, que devem tentar a reeleição. No Rio, o acordo está mais alinhado no momento, embora a possibilidade de o ex-ministro Braga Netto ser candidato pelo PL tenha esfriado as chances de o PT ocupar o posto de vice de Eduardo Paes (PSD). A entrada do general na disputa pode obrigar Paes a fazer um movimento mais ao centro. O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) pleiteia a candidatura, o que pode deixar o PT do lado oposto a um partido aliado.
Mesmo nos locais em que a possibilidade de o PT não enfrentar adversários é maior, como Belo Horizonte, Boa Vista e Macapá, há possíveis entraves. Na capital mineira, a avaliação majoritária é pela aliança com o PSD, que tem no estado o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, próximo ao Planalto. O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) diz que o apoio ao prefeito Fuad Noman (PSD) é um “ótimo caminho”.
— Ele foi muito leal ao presidente Lula.
Já a secretária de Finanças do PT, Gleide Andrade, diz que o partido estuda candidatura própria e citou o deputado federal Rogério Correia e os deputados estaduais Macaé Evaristo e Beatriz Cerqueira:
— Temos candidatos competitivos — afirma.
Fonte: O Globo