Preocupados com a economia, empresários se articulam para influenciar eleições
Por Edmilson Pereira - Em 7 anos atrás 926
Nova ordem. Avaliação é que falta de mobilização do setor produtivo abriu espaço para uma política econômica equivocada, que levou à crise; agora, em reuniões informais, executivos e donos de empresas tentam unificar apoio a um nome que represente o pensamento liberal
A um ano das eleições, o mundo empresarial está se movimentando para estruturar uma rede capaz de influenciar o resultado das próximas eleições – da disputa por cadeiras no Congresso Nacional à corrida presidencial. A articulação do setor produtivo rumo à linha de frente da política começa a ser desenhada em reuniões de pequeno porte, realizadas fora de instituições tradicionais de representação de categorias – como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) – e que envolvem líderes de algumas das maiores companhias do País.
O movimento mais oficial é o Renova Brasil, capitaneado por Eduardo Mufarej, do fundo Tarpon, que é sócio de negócios como BRF (dona de Sadia e Perdigão) e Somos Educação. O Renova tem esse nome porque se dedica à mudança do perfil do Congresso. O grupo tem pedido apoio financeiro a nomes do porte de Jorge Paulo Lemann (do fundo 3G), Abilio Diniz (ex-Pão de Açúcar, hoje sócio da BRF e do Carrefour), Armínio Fraga (ex-presidente do BC e sócio da Gávea Investimentos) e o publicitário Nizan Guanaes. A iniciativa foi antecipada nesta semana pela coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy.
Linha de frente. Mas a lista de empresários se movimentando para influenciar o cenário de 2018 é bem mais extensa. Seja em pequenas reuniões – como jantares e encontros privados – ou em grupos de WhatsApp, as lideranças ainda tateiam como proceder, mas creem que não podem mais se abster. “O empresário moita ficou fora de moda”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, um dos principais rostos da renovação do elo entre empresas e política.
À frente há mais de 20 anos de outra grande varejista, a Renner, o executivo José Galló faz um mea culpa, compartilhado por outros empresários ouvidos pelo Estado: a situação da economia piorou porque boa parte dos líderes do setor produtivo se absteve de tentar influenciar o que ocorre em Brasília. “O fato é o seguinte: todos permitimos que isso (a crise) acontecesse”, afirma Galló. “Então hoje há grupos que estão preocupados com a gestão do País, independentemente de partidos. Os grupos estão se formando, e isso é muito bom.”
A articulação se dá também no campo virtual: um grupo de WhatsApp chamado “João Doria Acelera” reúne 140 pessoas, incluindo Rocha e Artur Grynbaum, do Grupo Boticário.
Lideranças empresariais disseram ao Estado que, entre os que têm se articulado para debater as eleições de 2018, estão ainda nomes como Jayme Garfinkel (Porto Seguro), Carlos Jereissati Filho (Iguatemi), Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau), Walter Schalka (Suzano), Rubens Ometto (Cosan) e Pedro Passos (Natura). Procurados, eles não comentaram ou não responderam os contatos.
Segundo um empresário que já participou de alguns debates, as conversas estão longe de um consenso. “A gente fala, fala, fala. E tem hora que desanima porque não sabe o que fazer. Mas estamos buscando uma solução”, disse. “Após o PIB cair 8% em dois anos, está claro que não dá para deixar o barco correr.”
Outro desafio é o fato de ainda não ter surgido uma liderança que organize esse movimento. “Há um componente de medo que impulsiona as conversas. A economia está frágil. O empresário quer ter certeza que o próximo presidente vai dar conta do recado”, diz um grande investidor.
Candidatos. Uma das questões debatidas é sobre como a influência dos empresários poderia se materializar. A hipótese mais provável é o apoio a um candidato estabelecido e com chances claras de vitória – os dois preferidos são João Doria e Geraldo Alckmin, do PSDB. No “time” Doria, por exemplo, está Rocha, enquanto Rubens Ometto, segundo fontes, é entusiasta de Alckmin.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, corre por fora. Há a avaliação que, por ora, sua contribuição na equipe econômica é mais valiosa. “Prefiro o Henrique focado na transição do que disperso tentando uma candidatura”, diz um empresário. Já Marina Silva, que nas eleições de 2014 recebeu apoio explícito de Neca Setubal, da família proprietária do Itaú, e já teve em 2010 como vice Guilherme Leal, da Natura, não foi mencionada pelos empresários ouvidos. Ao Estado, Neca disse que “não terá nenhuma participação na campanha” da possível candidata; Leal não respondeu.
Há quem defenda que o setor produtivo deva ter um candidato criado dentro de casa. O Partido Novo, de agenda liberal, vem atraindo nomes para seus quadros, como o economista Gustavo Franco. Deve lançar o ex-banqueiro João Amoêdo à Presidência. A principal meta é ter força no Congresso. “Queremos eleger 30 deputados”, diz Moisés Jardim, presidente do Novo.
Dentro do meio empresarial, há esperança de que nomes mais conhecidos se interessem pelas eleições. Entre os nomes ventilados estão o de Rocha, da Riachuelo, que nega a intenção de se candidatar. Já Salim Mattar, da Localiza, não esconde suas pretensões políticas, mas diz que não se preparou para deixar seus negócios a tempo da próxima eleição. Outro nome citado é o de Fabio Barbosa, ex-presidente do Real e do Santander, que sempre negou a intenção de concorrer. Procurado, não quis dar entrevista.
Redação e O Estadão