Eleições 2022: Lula abandona tática de poupar Ciro Gomes e abre nova frente na briga por votos
Por Edmilson Pereira - Em 2 anos atrás 643
O PT contava com o apoio de Ciro Gomes no segundo turno e, ciente de que a maioria dos votos do pedetista poderia migrar para Lula, o ex-presidente evitou até agora o embate com o ex-aliado. No debate entre presidenciáveis que aconteceu no último dia 28, Lula chegou a falar que não levava as críticas de Ciro em consideração porque “ele tem o coração mais mole do que a língua”. Ciro, por sua vez, manteve temperatura alta no ataque contra Lula na ocasião. No dia seguinte, Ciro publicou nas redes sociais um comentário colocando em xeque a saúde de Lula.
A gota d’água dentro da campanha petista foi a última entrevista de Ciro Gomes. À Jovem Pan, o candidato do PDT chamou o filho de Lula de “ladrão”, negou abertamente a possibilidade de apoiar o ex-presidente no segundo turno e disse que o petista está “debilitado” e “fragilizado”.
Um dia depois da entrevista, veio a resposta no comando da campanha de Lula. “Infelizmente, Ciro Gomes está rasgando sua biografia. Está, nitidamente, fazendo alianças com o fascismo brasileiro”, escreveu Edinho Silva em seu Twitter, ele é um dos coordenadores de comunicação da campanha de Lula.
Pouco depois da publicação, a imprensa foi chamada para acompanhar uma declaração do ex-presidente durante a reunião de coordenação de campanha – o convite aos jornalistas para testemunhar a fala de Lula nestas ocasiões raramente acontece.
Lula, então, autorizou a busca aos votos da oposição – e não mirou o ataque só em Bolsonaro, como costuma fazer. “Além do candidato a presidente temos os candidatos da oposição. Sei que às vezes vocês (aliados da campanha) ficam chateados porque a oposição nos ataca. É normal. Eles me atacam porque eles têm medo que eu ganhe no primeiro turno. A gente não tem que ter vergonha de dizer que quer ganhar no primeiro turno”, disse Lula.
“Quem tem 5, 6, 7 ou 8 (por cento das intenções de voto) sonha em chegar a 40 ou 30 para ir a segundo turno? Ora, por que quem tem 45 não pode sonhar apenas com mais 5 e ganhar no primeiro turno?”, disse. “Estou convencido que a gente pode definir essas eleições no primeiro turno. Se por acaso, o povo quiser segundo turno, nós vamos ganhar também no segundo turno”, afirmou o petista.
Lula afirmou que “nenhum candidato na história desse país teve esse leque de apoio dos partidos políticos e do movimento social” que ele tem. Ciro Gomes tentou, mas não conseguiu atrair nenhuma legenda para sua campanha. Ao falar sobre o fato de candidatos não conseguirem fazer comício na rua por falta de apoio popular, Lula emendou: “É preciso ter história, ter programa, ter compromisso para poder juntar o povo na rua e discutir com eles”.
O ataque genérico serve também à candidatura de Simone Tebet (MDB), avaliada pela própria campanha do PT como o nome de destaque no debate entre presidenciáveis. Simone também foi a candidata que recebeu melhores notícias na última pesquisa de intenção de voto, com crescimento de 2% para 5% no último DataFolha.
No pronunciamento desta terça-feira, Lula citou apenas uma de suas propostas de governo já anunciadas, o Desenrola Brasil. É justamente o programa do PT semelhante ao proposto por Ciro Gomes, para renegociação de dívidas.
Ele defendeu a estratégia de “não baixar o nível” da campanha e não responder “ataques rasteiros”.
Apesar da fala, o PT mudou recentemente a orientação das peças de propaganda e passou a atacar diretamente Bolsonaro pelas revelações sobre o patrimônio de sua família e também pela condução da pandemia.