PT ameaça boicotar a eleição de 2018 se Lula não puder ser candidato a presidente
Por Wamberto Ferreira - Em 7 anos atrás 935
Pressionado pela constatação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dificilmente poderá ser candidato a presidente, por conta de condenações da Justiça que o deixarão inelegível, o PT trabalha com um plano C para as eleições de 2018: o boicote.
Nesse caso, além de não disputar a Presidência, um dos maiores partidos brasileiros também não lançaria candidatos ao Senado ou à Câmara dos Deputados e se dedicaria a uma corrida internacional para propalar o que considera mais uma rachadura na democracia do país.
“O que estamos denunciando é que o impedimento de Lula seria uma fraude nas eleições. (O boicote) é uma coisa que não está sendo oficialmente discutida ainda, mas vai caminhar para isso se ele for impedido de ser candidato. É um processo que não tem base jurídica”, afirmou à BBC Brasil a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann.
O ex-presidente já tem uma condenação em primeira instância no âmbito da operação Lava Jato – no processo ele é acusado de receber um tríplex da construtora OAS como forma de propina, o que Lula nega – e viu sua situação jurídica e política se complicar com a confissão do aliado de primeira hora e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Se a sentença do juiz Sergio Moro for confirmada em segunda instância – o que mesmo os mais otimistas petistas acreditam que acontecerá – a candidatura de Lula ficará barrada pela Lei da Ficha Limpa.
Para setores do PT de correntes como Construindo um Novo Brasil (CNB) e Novo Rumo ouvidos pela BBC Brasil, boicotar as eleições seria uma saída honrosa para o partido, que tem adotado o discurso de vítima de perseguição política pelo Ministério Público e pelo Judiciário brasileiros.
A estratégia extrema contaria com a anuência do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cuja imagem de líder dos princípios petistas tem sido resgatada diante de delações de antigos companheiros, como Palocci. Já Lula assiste às discussões olímpico. Como é de seu feitio, deixa os diferentes aliados defenderem suas posições na arena partidária sem demonstrar preferências até o momento da decisão.
“Existem duas hipóteses claras. A primeira é de forçar a candidatura, apelando ao Supremo Tribunal Federal para suspender a decisão da condenação. A segunda hipótese é de boicotar as eleições, sob a justificativa de que não querem deixar o povo decidir. E aí vai ser uma convulsão social, um risco de guerra civil no país”, afirma o deputado estadual José Américo (PT-SP).
Na teoria política clássica, um dos pilares da democracia é a confiança dos partidos no sistema político eleitoral e na sua possibilidade de chegar ao poder seguindo as regras do jogo. Enquanto parte do PT defende que o partido não mais acredita nisso – daí o boicote, outra ala enxerga a postura dos correligionários como “arrogância”.
“Acompanho esta discussão e Lula é certamente o meu candidato. Mas esta posição de não ter candidato, boicotando as eleições se Lula não puder concorrer, é o resquício de uma velha arrogância de uma parte do PT, que acha que não existe vida inteligente, de esquerda, fora do nosso partido. O campo democrático de centro esquerda tem candidatos possíveis para nos representar, tanto à esquerda de Lula, como mais ao centro”, afirmou à BBC Brasil o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, da corrente Mensagem ao Partido.
Genro antecipa tensões que devem se impor se o PT levar adiante o plano de tirar o 13 da urna eletrônica no ano que vem. De saída, o partido perderia alguns quadros, atraídos para outras legendas pela possibilidade de se candidatar.
Petistas a favor do boicote já começaram a rascunhar uma lista de defecções. O tema é especialmente sensível entre aqueles que são alvos da Lava Jato e buscam na reeleição a manutenção do foro privilegiado.
Embora mantenha o boicote como uma questão aberta, o partido já colocou a tese na rua. Duas frases, repetidas por integrantes do partido, sinalizam a estratégia: “Eleição sem Lula é fraude” e “Eleição sem Lula é golpe”.
“Temos trabalhado muito as redes sociais com esses slogans”, afirma a presidente do PT.