Como o novo coronavírus age no corpo das pessoas; caminho do vírus da covid-19 no organismo é alvo de diversos estudos
Por Edmilson Pereira - Em 5 anos atrás 1178
O rápido avanço da pandemia da covid-19 tem sido um desafio para cientistas ao redor do mundo, que precisam desvendar como age o novo coronavírus a fim de combatê-lo. Entender o comportamento do vírus é o que garantirá maior eficiência no diagnóstico, na prevenção, no tratamento e na descoberta de vacinas.
Até o momento, os estudos apontam que o vírus entra no organismo pelas mucosas, especialmente pelos olhos, nariz e boca. “Uma vez dentro do corpo, ele vai replicar em algumas células dessas mucosas”, diz a professora Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da UFRJ.
As principais células atacadas pelo vírus para se multiplicar são as do sistema respiratório, especialmente as nasais e pulmonares. Se a carga viral de contágio for alta, há a possibilidade de o vírus já chegar nos pulmões mesmo antes de começar a se replicar. “Vai ter mais chance de partículas conseguirem ultrapassar as barreiras naturais, físicas, que nós temos no trato respiratório, que seriam as células ciliares, o muco. Essas barreiras já existem no corpo humano para evitar que esses invasores entrem nos pulmões a partir do trato respiratório superior”, explica Luciana.
No pulmão, a multiplicação ocorre principalmente em um tipo de célula (pneumócitos do tipo 2), na qual acontece uma “replicação viral intensa”, como ressalta a professora. A partir dessa etapa, contudo, as hipóteses científicas são mais incertas. “Se o vírus sai dali, seja associado a células do sistema imune, seja sendo deglutido, e se ele vai chegar a outros locais do corpo, a gente não sabe.”
A especialista aponta que uma possível chegada do vírus em órgãos como fígado, rins, baço, coração e intestino depende muito da presença dele no sangue, o que ainda não foi comprovado. O dano em outros tecidos detectado até o momento pode decorrer, por exemplo, de respostas imunológicas à presença do coronavírus. Isto é, esses danos não são provocados diretamente pelo vírus, mas são consequência do que ele provoca no organismo.
Luciana Costa exemplifica que, se o vírus chegasse ao intestino por deglutição, ele teria a camada de proteção destruída pelo PH ácido do estômago e não conseguiria se replicar. “O vírus é excretado, isso a gente sabe, mas aparentemente não é infeccioso. Então pode ser que o vírus chegue lá por deglutição, mas não que ele se replique no intestino. A gente sabe que tem uma série de outras consequências que a replicação viral e a resposta a isso causam, como a coagulação, a grande acumulação de processos inflamatórios, e a combinação desses fatores pode causar danos nos outros órgãos.”
Disseminação – O vírus se dissemina pelas gotículas expelidas por pessoas contaminadas, especialmente pela tosse e espirro. São partículas microscópicas que ‘navegam’ pelo ar até encontrar novo hospedeiro.
Transmissão – Gotículas minúsculas entram em contato com as mucosas, como nariz, boca e olhos, pelas quais penetram no organismo da pessoa que será contaminada. Os sintomas geralmente começam a ficar evidentes depois de cinco dias.
Replicação – As proteínas pontiagudas do vírus (chamadas “spikes”) se prendem à membrana da célula humana, permitindo que a liberação do material genético (RNA). A partir desse momento, a célula vira uma “escrava” do vírus, replicando-o milhares de vezes até ela (a célula) morrer.
Resposta imunológica – As cópias do vírus começam a se espalhar pelo organismo, infectando outras células e avançando especialmente pelos dutos dos brônquios. O sistema imunológico começa a agir, com uma “tempestade de “citocinas” (células de defesa). Em alguns casos, o organismo perde o controle e começa a bombear níveis excessivos de citocinas, o que causa inflamação nos pulmões e no coração.
Pulmões – As mucosas inflamam, danificando alvéolos ou vesículas pulmonares, que precisam trabalhar mais para fornecer oxigênio ao sangue e remover o dióxido de carbono. Os pulmões ficam cheios de fluido, pus e células mortas, ficando rígidos e agravando a insuficiência respiratória.
Sistema gastrointestinal – A infecção pode se espalhar pelas mucosas, do nariz ao reto. Por isso, há a hipótese de que talvez o vírus possa ser capaz de infectar células do sistema gastrointestinal (o que explicaria os sintomas digestivos relatados por parte dos pacientes), mas ainda não há comprovação.
Coração e sangue –O bombeamento do sangue aumenta com a febre, o que exige mais do coração, que já está com menores reservas de oxigênio. O corpo responde ao vírus e infecções. Mas podem surgir coágulos nas artérias coronárias, o que bloquearia o fluxo do sangue, causando problemas cardíacos.
Medula e fígado – A medula e órgãos como o fígado também podem ficar inflamados, mas ainda não está claro se isso ocorre por ação direta do vírus ou como consequência de outros danos e reações do organismo.
Sistema nervoso – O vírus tem potencial para invadir o sistema nervoso central e provocar encefalites e mielites, embora isso ainda esteja em estudo.
Fonte: Paraíba Notícia e O Estadão