ECO Samambaia (DF) 09/06/2017 - JBS / PECUARISTAS - Os efeitos devastadores da delação premiada dos executivos da JBS já são sentidos em toda a cadeia produtiva de carnes do país e preocupam os pecuaristas nacionais. Antes mesmo de os depoimentos dos donos da companhia virem a publico, o grupo empresarial já era atingido pela crise provocada com a operação Carne Fraca, que investiga suspeita de irregularidades em frigoríficos, e afetou a exportação de proteína animal do Brasil. Produtores nacionais relatam que o preço da arroba do boi despencou com as duas crises seguidas e afirmam que tem enfrentado dificuldades para receber a vista o dinheiro pela venda do gado, já que a empresa esta pagando de forma parcelada. Alem disso, vários bancos estariam se recusando a receber notas promissórias emitidas pelo frigorifico, com medo de calote. Na foto, filial da companhia em Samambaia, DF. Foto Michel Filho / Agencia O Globo

ESCÂNDALO: A JBS dos irmãos Wesley e Joesley Batista recebeu sozinha 38% dos recursos liberados BNDES entre 2005 e 2016

Por Edmilson Pereira - Em 7 anos atrás 1083

Alvo de investigações da Polícia Federal e do Tribunal de Contas da União, o BNDES apresentou nesta terça-feira seu “Livro verde: nossa história como ela é”, uma compilação de dados e explicações sobre a atuação do banco, com foco no período de 2001 a 2016. A versão preliminar do livro mostra que a JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, abocanhou a maior fatia do apoio financeiro do banco ao setor de carnes. Dos R$ 31,2 bilhões desembolsados pelo BNDES para os frigoríficos entre os anos 2005 e 2016, a empresa ficou com 38% do total, considerando também o Bertin, que se fundiu à JBS. O grupo BRF ficou com 16%, seguido pela Marfrig/Seara, com 14%. A Seara foi comprada pela JBS do Marfrig em 2013.

Os R$ 31,2 bilhões consideram duas modalidades de apoio do banco. Via financiamentos foram R$ 18,8 bilhões. Os R$ 12,4 bilhões restantes são de operações de mercados de capitais, por meio da BNDESPar, braço de participações da instituição. Somados, JBS e Bertim receberam R$ 8,1 bilhões da BNDESPar ou 65% do apoio da subsidiária do banco ao setor de carnes naquele período. Como resultado, as receitas da JBS saltaram de R$ 4 bilhões em 2005, início do processo de internacionalização da companhia, para R$ 170 bilhões em 2016.
Apoio do BNDES ao setor de carnes

Hoje, a empresa busca se desfazer de ativos para reduzir seu endividamento. Paralelamente, outras empresas do grupo, chamado J&F, estão à venda com destaque para a Alpargatas, vendida esta semana para a dona do Itaú. O intuito é levantar recursos para pagar a multa bilionária acertada com a Procuradoria na delação premiada de executivos da J&F, na qual os irmãos Batista admitem pagamento de propina a políticos para obter favorecimento.

No livro, o BNDES justifica o apoio à JBS com a estratégia do governo passado de incentivar o setor de Proteína Animal, “com objetivo de consolidar o Brasil como o maior exportador mundial de proteína animal e fazer do complexo carnes o principal setor exportador do agronegócio brasileiro”. O banco ressalta ainda que entre 2005 e 2016 foram apoiadas mais de 17 mil unidades produtoras do setor no Brasil e que o resultado líquido das operações com a JBS estava positivo em R$ 3,5 bilhões no fim de 2016.

– Foi um negócio dos mais bem bolados e bem-sucedidos da BNDESPar. O BNDES é uma escola de empresariar bem – disse Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES.

Ele ressaltou que o apoio do banco ao Bertin foi anterior à fusão da empresa com a JBS e que, por isso, “o apoio (aos grupos frigoríficos) foi bem equilibrado”.

– É pura fantasia dizer que há um sujeito que é amigo do rei e que pediu preferência e que vai levar tudo. Longe disso – afirmou o presidente do banco.

Na delação, os irmãos Batista afirmaram que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega era o interlocutor do grupo no BNDES e que ele teria pressionando o banco pelo apoio financeiro em algumas operações de aquisição de ativos.

Considerando apenas financiamentos, o grupo J&F aparece na 19ª posição no ranking dos 50 maiores clientes do BNDES entre 2001 e 2016. O grupo contratou R$ 14,9 bilhões em empréstimos no período. O primeiro lugar é ocupado pela Petrobras, com R$ 128,5 bilhões, seguida pela Embraer (R$ 85,9 bilhçoes) e a Odebrecht (R$ 51,7 bilhões), investigada pela Lava-Jato.

O livro foi uma promessa do novo presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, quando tomou posse em 1º de junho. O documento, com 212 páginas, é uma verdadeira defesa da atuação do banco no fomento ao desenvolvimento do país, a começar pelo título da apresentação escrita pelo próprio Rabello de Castro: “65 anos de integridade e aplicação”. O BNDES fez 65 anos este ano.

O banco nega que tenha promovido a formação de campeões nacionais, uma das críticas à gestão de Luciano Coutinho (2007-2016). Diz que “o apoio ao fortalecimento e internacionalização de grupos empresariais não implicou a escolha discricionária de alguns poucos e privilegiados campeões, menos ainda de campeões nacionais”. E ressalta que “o número de empresas apoiadas que apresentam boa situação patrimonial e reputação é muito superior ao número de grupos nacionais com problemas econômico-financeiros ou denúncias relacionadas a atos de corrupção”.

Numa clara referência à operadora de telefonia Oi, considerada por muitos um exemplo de campeão nacional, o BNDES diz que “não toma decisões de forma isolada do sistema financeiro”. Ele cita a recuperação judicial de um grupo do setor de telecomunicações, com dívidas de R$ 64 bilhões – montante devido pela Oi – , e frisa que a dívida está dividida entre instituições internacionais como o Bank of New York Mellon (R$ 18 bilhões) e instituições bancárias brasileiras, que representam 22% da dívida da empresa. O BNDES é credor da OI, com R$ 3,3 bilhões a receber.

Fonte: Agência Globo/André Coêlho