Economia brasileira encolheu 0,51% em maio, maior queda desde agosto, aponta levantamento do Banco Central
Por Edmilson Pereira - Em 7 anos atrás 895
Na contramão das expectativas e de alguns sinais de recuperação, a economia brasileira encolheu 0,51%, em maio, nas contas do Banco Central. A maior queda desde agosto do ano passado surpreendeu os economistas, que esperavam uma alta de 0,3% do IBC-Br (o índice de atividade da autarquia). O dado reforça que a retomada do crescimento será com altos e baixos e ao sabor dos próximos capítulos da crise política nacional.
Apesar de o dado ser muito pior que a projeção, os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo GLOBO mantiveram a perspectiva para o segundo trimestre. A maioria espera estabilidade no resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB). E garantem que a velocidade da retomada daqui para frente dependerá apenas dos rumos políticos do país.
Acostumados a lidar com o risco, quando é possível dar preço às variáveis econômicas, os analistas do mercado financeiro estão perdidos. Isso porque o cenário é de incertezas, quando é impossível precificar as variáveis. Uma amostra disso é o comportamento dos agentes financeiros nas últimas duas semanas.
Conseguiram mostrar euforia tanto com a possibilidade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumir o poder quanto com a vitória do presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Na visão do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, é tanta incerteza que a indefinição pode começar a contaminar as projeções de crescimento do ano que vem. Segundo o analista, o Brasil já deixou o fundo do poço desde meados do ano passado, o que preocupa é a velocidade de recuperação.
— O que é decepcionante é o ritmo da recuperação. É um ritmo muito baixo dado o buraco que a gente se enfiou — avalia.
Ele lembra que, apesar de o mercado financeiro receber bem a vitória do presidente, as incertezas continuam. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, prepara outras denúncias contra Michel Temer. Isso deve tumultuar ainda mais o cenário dos economistas.
— Não sei a solução, mas tem de ser resolvido rápido — fala Leal. — O que podemos esperar? Dia 2 de agosto deve vir outra denúncia.
O nível de confiança do consumidor brasileiro com a economia e com as próprias condições financeiras, por exemplo, despencou. Caiu de 41,5 pontos para 39,4 pontos em junho: uma queda de 5%. O dado do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) está no patamar mais baixo já registrado.
No ano, o IBC-Br ainda não mostrou reação. Está praticamente estável. O índice da autoridade monetária acumula uma queda de 0,05%.
Enquanto aguardam o desenrolar da cena política, os economistas tentam entender os números da economia. Vários economistas questionam a qualidade do IBC-Br, que tem muita influencia da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, que anda descolada das projeções do mercado.
Além disso, o índice do BC, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, não dá tanto peso à agricultura. Isso minimiza as expectativas de um impacto importante da agricultura no segundo trimestre por causa da safra de milho.
— O IBC-Br veio descolado, mas não altera a visão do mercado de que vai vir uma retomada — frisa a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. — Obviamente, não dá para melhorar muito por causa da incerteza.
Ela aposta numa melhora do sentimento do consumidor à medida que a queda dos juros chegue ao crédito para as famílias — um processo que já começou — e que o desemprego caia. No entanto, não há perspectiva de uma recuperação geral rápida.
— A sensação ainda vai ser muito fraca. A gente precisava de investimento, mas esse só vem quando a gente estancar a crise política.
Volatilidade na recuperação do país também é esperada pelo economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Como a maioria dos seus colegas, ele culpa a incerteza política. Ressalta, entretanto, que a economia já começou a se recuperar.
O resultado da economia no primeiro trimestre, por exemplo, foi um pouco melhor do que o anunciado pelo Banco Central em maio. A autarquia revisou o dado que passou de 1,12% para 1,14% agora. Esse número foi altamente influenciado pelo bom desempenho da agricultura no período.
Depois desse desempenho, a expectativa era de um segundo trimestre não tão bom, mas no campo positivo.
Uma alta era aguardada por causa dos dados setoriais. A produção industrial, por exemplo, aumentou 0,8% em maio, de acordo com o IBGE. Foi o melhor resultado para o mês deste de 2011. Esse resultado foi puxada pelo desempenho positivo de 18 dos 26 ramos acompanhados pelo instituto.
Por outro lado, as vendas do comércio contrariaram as expectativas positivas. O resultado do varejo brasileiro teve uma leve queda de 0,1% em maio, segundo o IBGE. Houve fortes perdas nas vendas de vestuário e calçados.
Já o setor de serviços também ficou praticamente estável, em maio, mas com uma sinalização melhor que o comércio. Teve uma alta de 0,1%, como divulgou o IBGE. O resultado foi bem diferente da forte alta de 1% no mês anterior, mas ainda ficou no campo positivo.
Em comunicado a clientes, o Bradesco afirmou que o resultado negativo refletiu principalmente a queda das vendas do varejo em maio e “corrobora nossa expectativa de que o PIB tenha retraído no segundo trimestre”.