ENTRE MULHERES: os cuidados necessários com a saúde sexual de lésbicas e bissexuais

ENTRE MULHERES: os cuidados necessários com a saúde sexual de lésbicas e bissexuais

Em 6 anos atrás 2787

A discussão sobre saúde sexual e prevenção voltou a ser foco nas rodas de conversa LGBT. O Boletim Epidemiológico HIV Aids 2018 aponta que o país vive uma nova epidemia do vírus da AIDS entre os jovens de 19 a 24 anos. A pesquisa também mostra um aumento significativo na incidência de infecções sexualmente transmissíveis como a sífilis e a gonorreia. Mas há uma lacuna que precisa ser preenchida nesse quadro: a vida sexual das mulheres lésbicas e bissexuais. Para elas, as campanhas de prevenção e as políticas de saúde são escassas.

As dificuldades para as lésbicas ou bissexuais que se relacionam com mulheres começam no atendimento ginecológico. Muitas reclamam que a consulta costuma ser pautada por métodos contraceptivos, pressupondo a heterossexualidade da paciente, o que torna difícil a conversa com o médico sobre suas práticas sexuais. Mas não é só: em alguns atendimentos, a saúde sexual feminina está centrada apenas em relações que envolvem penetração, o que faz com que lésbicas ou bissexuais sejam tratadas como virgens pelos médicos, que em casos mais extremos se recusam até a realizar exames.

– Nos últimos anos, o movimento feminista tem pautado muito a questão da saúde, e os atendimentos têm melhorado muito. Há dois ou três anos era pior – explica a médica Thaís Dias, do coletivo feminista Sexualidade e Saúde. – Tratar as mulheres homossexuais como virgens é um erro comum. Elas podem usar dildos e vibradores ou já tiveram relações com homens anteriormente. É importante que façam os exames que detectam as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). A sifílis, por exemplo, pode ser transmitida no sexo entre mulheres.

A dificuldade de abordar a vida sexual destas mulheres dificulta a circulação de informação sobre a transmissão das DSTs. Além de falar da saúde sexual das lésbicas e das bissexuais de forma pedagógica e livre de preconceitos, a médica afirma ser necessário criar métodos de prevenção para o sexo que não envolve penetração. Segundo Thaís, os métodos utilizados atualmente são adaptações que não têm eficácia comprovada ou são desconfortáveis para as mulheres. Métodos como a profilaxia pré-exposição (PrEP) só previnem o HIV, deixando de lado outras infecções sexualmente transmissíveis.

– Durante muitos anos o sexo entre mulheres foi tratado como uma brincadeira ou como algo menor por não envolver o pênis. Mas algumas lesões de HPV e a sífilis podem ser transmitidas. Essa última, aliás, está crescendo muito atualmente e pode ser passada pelo sexo oral e pelo sexo lésbico.

É importante lembrar que a consulta ginecológica e exames como o preventivo não estão atrelados apenas à relação sexual. É nesse momento que as mulheres – heterossexuais, homossexuais ou bissexuais – podem descobrir doenças como a endometriose e o câncer no colo do útero. A mestre em Saúde Coletiva Julliana Rodrigues defende que é necessário a inclusão da abordagem do sexo lésbico na formação dos profissionais de saúde.

– É necessário incluir as necessidades dessas mulheres na formação dos médicos, fazê-los perceber o quanto o corpo feminino ainda é estudado e compreendido a partir de uma heterossexualidade compulsória. Elas devem ser incluídas nas políticas públicas de saúde e na pauta de profissionais que atuam na rede de atenção – adverte Juliana.

Apesar da dificuldade de acesso a métodos eficazes, as mulheres que se relacionam com outras mulheres encontraram alternativas para uma atividade sexual mais saudável. O uso de métodos tidos como não convencionais é a forma escolhida por muitas para evitar infecções.