PAZ: Kim Jong-un e Donald Trump assinam acordo após encontro em Cingapura
Por Edmilson Pereira - Em 7 anos atrás 1028
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tiveram um encontro histórico em Cingapura às 9h04m desta terça-feira (22h04m de segunda, no horário de Brasília). Após almoçarem juntos, Trump e Kim assinaram um documento em que prometeram trabalhar para a desnuclearização completa da Península Coreana, enquanto Washington se comprometeu a fornecer garantias de segurança para seu antigo inimigo.
“O presidente Trump se comprometeu a fornecer garantias de segurança à Coreia do Norte e o presidente Kim Jong-un reafirmou seu firme e inabalável compromisso com a completa desnuclearização da Península Coreana”, disse um comunicado conjunto emitido após a histórica cúpula em Cingapura.
Trump disse esperar que o processo de desnuclearização comece “muito, muito rapidamente”. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e autoridades norte-coreanas realizariam as negociações de acompanhamento “o mais cedo possível”, disse o comunicado.
No entanto, não deu detalhes sobre como a desnuclearização seria alcançada. O documento também não menciona as sanções internacionais que prejudicaram a economia da Coreia do Norte, por perseguir seu programa de armas nucleares.
Também não houve qualquer referência a finalmente assinar um tratado de paz. Os combatentes da Guerra da Coreia de 1950-53 ainda estão tecnicamente em guerra, já que o conflito, no qual milhões de pessoas morreram, foi concluído apenas com uma trégua. Mas a declaração conjunta disse que os dois lados concordaram em recuperar os restos de prisioneiros de guerra e os desaparecidos em ação e repatriá-los.
Antes de assinar o que Trump descreveu como um documento “abrangente”, Kim disse que os dois líderes tiveram uma reunião histórica e que decidiu deixar o passado para trás.
— O mundo vai ver uma grande mudança — afirmou.
Trump disse que havia formado um “vínculo muito especial” com Kim e que o relacionamento com a Coreia do Norte seria muito diferente.
— As pessoas ficarão muito impressionadas e ficarão muito felizes. Vamos cuidar de um problema muito perigoso para o mundo — disse Trump.
Trump chamou Kim de “muito inteligente” e um “negociador muito valioso e muito duro”.
— Aprendi que ele é um homem muito talentoso. Eu também aprendi que ele ama muito o seu país — disse.
Durante um passeio pós-almoço pelos jardins do hotel de Cingapura, onde o encontro foi realizado, Trump disse que a reunião foi “melhor do que qualquer um poderia esperar”.
Kim permaneceu em silêncio ao lado, mas o líder norte-coreano já havia descrito sua cúpula como um “bom prelúdio para a paz”.
Após um aperto de mão histórico, acompanhado pelo mundo inteiro, os dois líderes apareceram diante das câmeras conversando em tom amigável, com sorrisos, um segundo cumprimento e tapinhas nas costas. Em seguida, Trump sentou-se ao lado de um sorridente Kim na frente de repórteres e disse que estava confiante de que as negociações seriam um “tremendo sucesso”. Os dois mostravam-se cordiais, embora Kim estivesse menos efusivo do que no seu recente encontro com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. Mais uma vez, os dois apertaram as mãos publicamente.— Nós teremos uma tremenda relação. Eu não tenho dúvida — disse o presidente americano.
Por sua vez, Kim disse que Coreia do Norte e Estados Unidos superaram o obstáculo de uma história difícil a fim de realizar a cúpula:
— O caminho para chegar até aqui não foi fácil — Kim disse, sentando-se à mesa com Trump. — Os velhos preconceitos e práticas funcionaram como obstáculos no nosso caminho, mas superamos todos eles e estamos aqui hoje.
A primeira parte da reunião da cúpula incluiu um encontro apenas entre Trump e Kim, acompanhados dos seus tradutores, com o objetivo de estabelecer um laço de confiança entre os dois líderes — ao longo de meses, eles trocaram ofensas mútuas publicamente, além de fervorosas e aparentemente impetuosas ameaças em tom belicoso, o que gerou preocupações globais de uma possível guerra nuclear entre os dois lados. Em seguida, cerca de 40 minutos depois, os dois líderes reapareceram juntos e se dirigiram a uma mesa para um almoço de trabalho com os seus assessores, que trabalharam intensamente por semanas para possibilitar o encontro — que, em maio, chegou a ser cancelado por Trump numa carta endereçada a Kim.
Do lado de Trump, estavam o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, o chefe de Gabinete, John Kelly, e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton. Do lado de Kim, a delegação incluiu o general Kim Jong-chol, que tem sido o braço-direito do líder supremo nas negociações.
— Trabalhando juntos nós vamos cuidar disso — disse Trump a Kim no começo da segunda reunião. — Vamos resolver.
Em inglês, Kim disse a Trump:
— Prazer em conhecê-lo, senhor presidente.
Em sua visita a Cingapura, Trump almoçara mais cedo com o primeiro-ministro do país, Lee Hsien Loong, enquanto os diplomatas americanos e norte-coreanos se reuniam para discutir o tipo de linguagem que deverá ser utilizada num comunicado conjunto a ser emitido por Trump e Kim após o seu encontro. A Casa Branca já havia anunciado que o presidente americano deixará Cingapura poucas horas depois da cúpula, tendo apenas um dia de reunião com Kim. Há especulações de que o chefe da Casa Branca poderia, assim, estar tentando pressionar o líder norte-coreano.
— Muitas pessoas no mundo todo vão pensar que isso aqui é um filme de fantasia ou de ficção científica — comentou Kim ao caminhar com Trump rumo à sala de conferência.
Com dúvidas restando sobre o que a desnuclearização implicaria, autoridades de ambos os lados conversaram por duas horas para avançar com a agenda do encontro antes da reunião de cúpula da terça-feira. Segundo Pompeo, os Estados Unidos estão dispostos a dar à Coreia do Norte “garantias de segurança únicas”, diferentes das propostas até agora, em troca de uma desnuclearização “completa, comprovável e irreversível”.
A Coreia do Norte, por sua vez, declarou que o encontro representa a possibilidade de “estabelecer uma nova relação” com os Estados Unidos. Em Seul, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, mediador do processo de aproximação que culminou no encontro, disse que será a “cúpula do século”. No entanto, ele se mostrou cauteloso quanto a um dos principais temas esperados na reunião, a desnuclearização da Península Coreana, indicando que isso pode resultar em um longo processo para a Coreia do Norte.
Segundo a agência estatal de notícias da Coreia do Norte, Kim e Trump discutirão “um mecanismo permanente e duradouro de paz” para a Península Coreana, a desnuclearização da região, e assuntos de interesse mútuo. Mas ainda não se sabe claramente qual é a agenda completa da cúpula. Pode ser que o encontro seja apenas um primeiro contato entre os líderes.
O principal tema em torno da abertura diplomática da Coreia do Norte é desnuclearização. Especialistas apontam para uma divergência entre os dois países a respeito da abrangência do termo. Para Trump, a paz só será selada com a extinção completa, irreversível e verificável das armas nucleares na Coreia do Norte, enquanto Kim tem defendido a desnuclearização da Península Coreana como um todo, o que provavelmente inclui o fim da influência militar americana na região. Os EUA têm cerca de 28.500 soldados em bases militares na Coreia do Sul.No entanto, Trump já indicou que poderia aceitar uma desnuclearização em etapas, reconhecendo que talvez não seja possível alcançar a extinção de armas nucleares na Coreia do Norte com apenas uma reunião. Além disso, é possível que Kim faça uma tentativa de acabar com as sanções econômicas impostas contra seu país, mas isso provavelmente estará sujeito a sinais concretos de comprometimento com a desnuclearização.
Redação e Agências Internacionais